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Despertada no REM
Flora Fernweh

Cair na realidade dissipa a névoa que nos fazia esperançar e torna o céu da vida mais claro e amedrontador. É ruim quando o sonho de uma noite mal dormida é interrompido, e ainda pior quando somos abruptamente acordados a contragosto na época mais sonhadora de nossa existência. Sonhos não são feitos para serem lembrados ou contados, os sonhos são feitos para serem sonhados, mas até então nunca ninguém me falara que nem todos os sonhos podem ganhar o espaço destinado ao real. Alguns justificam internamente essa verdade argumentando que é antes preferível um sonho não vivido a um pesadelo sem fim. A certeza é uma verdade que dói ante o fim de uma doce proteção idealizada, mas parafraseando Elis Regina, viver é melhor que sonhar.

Depende da vida que se leva, depende do sonho em que se aventura, talvez sonhar seja mesmo ainda melhor que viver. Quando compreendemos que nos cabe a vida que a nossa mente projetou, expandir os propósitos com os pés fincados na verdade se mostra a maneira mais prática de ambicionar por meio dos sonhos que temos. O mais difícil é o baque, a fuga da tranquilidade e a perda da crença em si, porque não há nada que nos seja mais íntimo que os sonhos, ainda que compartilhados, visto serem parte de nós que escolhemos ou não externalizar. São a fantasia mais autêntica que nos compõe, somos feitos dos fragmentos de tudo o que um dia sonhamos e de tudo o que deixamos de sonhar, somos também os futuros sonhos. Desprender-se dos sonhos é, portanto, desprender-se de si, desaprender o passado e arrepender-se do porvir.

Talvez não estejamos preparados para enfrentar todas as situações que nos são colocadas, aí residem os sonhos, amortizando a queda e a todo instante nos fazendo imaginar como tudo poderia ser melhor se alguma variável se encaixasse em nossa história. Sonhar é um ato de coragem, não um ato de desespero ou insanidade. Isto porque o sonho exige elaboração, requer memória, associação e sentimento. Embora se estranhe, a característica basilar do sonhador é a lucidez e um estado de espírito que permita que os anseios pessoais venham à tona em forma de imagem, sons, cores, texturas e ações, em forma de ideia, de fé, de espera e de aceitação, sonhar, portanto, exige a sagacidade e a plenitude das quais somente gozam os mais fortes.

Assim, acordar também é loucura, ser arrancado dos braços de Orfeu consiste em assumir a orfandade de estar longe da essência particular do que se é. Acordar é desiludir-se, quedar-se sem ter tempo de se acudir. Não era de meu feitio acordar, mas chegou o tempo em que precisei, obrigando-me a assumir a forma do personagem que avistou a concretude e em nada soube diferenciá-la do caos e do mais apavorante dos pesadelos. “Rapid eyes movement”, assim descrevo o meu olhar afoito por todos os lados na tentativa de apreender algo acolhedor no desatino predestinado, assim descrevo a minha perspectiva afeita ao sonho distante daquilo que pode tolher o que há de mais belo em mim, aquilo que há de mais humano em nós.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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