“Histórias que os jornais não contam” já é de início um título que desperta a curiosidade. Para além de um engenho inaugural do autor, o livro faz jus àquilo que a capa traz, visto que Scliar vale-se de notícias, manchetes e fatos cotidianos para compor suas narrativas tão bem escritas e elaboradas, que certamente vencem pelo arrebatamento de uma crônica e pelo nocaute de uma situação inusitada, extraídas da banalidade do dia a dia ou de grandes acontecimentos pelo mundo e pelo contexto em que se encontra. Scliar inspira-se humoradamente nas experiências vividas para tocar a ficção e para beirar o imaginário. Por vezes expressa em palavras aquilo que somente pensamos quando lemos um jornal e que deixamos armazenado no fundo do pensamento como uma ideia sem nexo. O autor, por sua vez, nos convida a tornar o ato de pensar algo livre e espontâneo, porque ele explora todas as possibilidades, cria caminhos e até confere um destino inimaginável a uma situação que parece óbvia. Scliar realiza o absurdo com a fluidez de um bom cronista que sabe captar a atenção em palavras breves, eternizando-as na memória de quem lê ou de quem se conecta com fatos corriqueiros cuja criatividade extrapola a razão, o bom senso e ganha a fantasia em um tom mais pessoal. Textos jornalísticos frequentemente têm o propósito de informar e são escritos em terceira pessoa, mas Scliar inova ao transpor tais textos para uma linguagem literária, em que o contato autor-leitor dá-se, e somente pode assim o ser, em primeira pessoa, sem os óbices de uma formalidade jornaleira. Este é um dos contrastes com os quais o autor brinca em seus textos, fazendo da escrita uma fonte de prazer em descobrir o que não se busca, e de compreensão sobre as entrelinhas onde a verdade pode estar escondida.
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Biografia: Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. |