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🔵 Ovo mexido
Rafael da Silva Claro

Tatus-bola, vaga-lumes, grilos e outros animais desafortunados. Voadores, aquáticos ou rasteiros, bastava estarem vivos para virarem brinquedo. Contudo, um ovinho era uma novidade, portanto, algo que não suplantava a mera curiosidade. Mas naquele tempo (final dos anos 70 ou início dos 80) ainda se brincava com traquitanas mais rudimentares. No caso, aquele buraco de um tijolo guardava o ovo que continha um embrião de lagartixa. Mesmo sendo algo orgânico, aquilo instigava a curiosidade exploratória infantil. Pois bem, decidimos assumir aquela gestação.

Acomodamos o ovinho dentro de uma gaveta, num chumaço de algodão. Pronto. Dentro do ovo, o bebê-lagartixa tinha tudo o que necessitava. Nós três, só esperávamos estar presentes quando o pequeno réptil destruísse a casquinha.

***

O algodão estava vazio. Somente jazia a casca quebrada e vazia. O cenário mostrava os restos deixados por algum predador que saciou a fome com o conteúdo do ovo. Nossa única atitude era desejar que tudo tenha sido rápido e indolor. Era óbvio que o nosso experimento interrompeu aquela inteligência biológica que realizaria o milagre da vida. O aborto era uma realidade. Aquela intervenção estúpida teria um mentor intelectual. Entretanto, diante de três criminosos inimputáveis, as investigações foram encerradas antes de começarem.

Porém, algo se mexia no fundo da gaveta. Sim, a lagartixinha nasceu com saúde e passava bem. No entanto, por intervenção humana, o bichinho veio ao mundo órfão e a briga pela vida, que começou dentro do ovinho, continuava do lado de fora. A partir dali, seria difícil explicar que havíamos dado à luz... uma lagartixa.

Com o simpático nome de “lagartixa doméstica tropical” ou “lagartixa de parede”, finalmente, o pequeno e insetívoro animal, sem nenhum membro amputado e, literalmente, sem pai nem mãe, foi libertado. Entregue à natureza e à própria sorte para sobreviver, com uma dieta à base de moscas, o bichinho foi deixado para lutar num terreno baldio que iniciava a obra do banco ‘Bamerindus’.

Depois de algumas décadas, sei que o sósia de jacaré já cumpriu sua existência no planeta Terra. Curta ou longa, sua vida não foi em vão: enquanto outros exemplares de sua espécie se restringiram a devorar insetos, ele teve sua gestação e parte da sua vida a serviço de três pirralhos curiosos.


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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