LÚCIUS E ACTE
Naquela região da Itália, mais precisamente no vilarejo de Ântium, eu Lucios e Acte percorríamos os estreitos caminhos daquele tempo. Brincando de um lado e outro, na inocência da idade, nós nos atracávamos, caíamos pelo chão, rolávamos pra lá e pra cá. Éramos felizes naquele tempo.
Os nossos cuidadores eram bastante desleixados e não se importavam conosco, portanto eu me apeguei muito a Acte e só queria estar com ela o dia inteiro e também a noite.
A criadagem estava sempre por ali e a tia não se importava com o que nós fazíamos, aliás ela não se importava nenhum pouquinho conosco, de modo que nós dois ficávamos completamente soltos e fazíamos o que bem queríamos.
Eu era um menino alegre, animado, sorridente e brincalhão. Era uma pessoa desligada e não se preocupava com roupas, nem com o corpo. Para mim tanto fazia estar limpo como sujo, tudo era a mesma coisa. O que mais gostava era brincar de artista de teatro e fazia isto quase todos os dias.
Acte era uma menina escrava que fora deixada para Domícia para que aos poucos fosse aprendendo os serviços da casa e pudesse ajudar a sua tia mais tarde e também a mim. O fato é que nós nos apegamos tanto que muitos pensavam que éramos irmãos. Mas eu queria Acte mais que uma irmã.
Lá pelas onze horas um criado vinha nos buscar para irmos almoçar. Naquele tempo todos almoçavam juntos e ficavam alguns momentos conversando e depois cada um tomava o rumo que lhe aprouvesse.
O tempo foi passando. Eu e Acte crescíamos, mas não nos separávamos. Preferíamos brincar sempre pelos campos em contato com a natureza. Eu gostava de observar os pássaros cantando pelas árvores.
De vez em quando abraçava Acte e ficava assim por um tempo. Com apenas 12 anos comecei a sentir por ela alguma coisa diferente, ela também sentia algo diferente. Ainda não tínhamos percebido que estávamos ficando rapaz e moça e que os sentimentos poderiam mudar. Em casa ninguém falava nada, de modo que nós continuávamos do mesmo jeito como se o tempo não estivesse passando.
Naquele tempo dormíamos na mesma cama. A tia, a princípio não queria que isto acontecesse, mas depois aceitou, pois éramos apenas crianças. Algumas horas da noite sempre que íamos nos deitar, nossa tia vinha ver se estava tudo bem, se estávamos bem cobertos. Assim a história foi se repetindo por longos anos.
Um pequeno incidente veio tirar o meu sossego naquele tempo. Eu não gostava muito de tomar banho e dormia do mesmo jeito que chegava do campo. Algumas pessoas me chamavam de porco, mas eu não me importava com isto. Até que um dia não teve mais jeito e Acte disse que se eu não tomasse banho, que teria que ir dormir em outro lugar. Eu achei ruim e bati o pé dizendo que não iria tomar banho, mas não teve jeito. Ela não aceitava mesmo. Com muito sacrifício comecei a tomar banho todos os dias às 6 horas da tarde. Em compensação dormia nos braços dela.
Como já estávamos, bem crescidos começamos a descobrir outras coisas na cama, muito mais interessantes. Com as minhas mãos comecei a explorar o corpo de Acte durante a noite. Fazia isto bem devagar. Ela ia fazendo as mesmas coisas comigo e descobrimos o sexo. Eu tinha 13 anos e ela 12. As coisas começaram cedo conosco e isto fez nós nos tornamos ainda mais pregados. Não tenho ideia de quando começamos mesmo com a prática sexual, mas sei que foi bem cedo.
O desejo que eu sentia por Acte era muito grande. Eu queria, mas não sabia como fazer e isto foi me fazendo a cabeça. Eu tinha que descobrir um jeito. Ficava pensando isto muito tempo durante a noite.
Andando com Crispus certa vez, vi um cavalo se aprontando para fazer sexo com uma égua. Crispus ajudou e deu certo. Eu fiquei imaginando... ah, é assim. Fui tentar fazer o mesmo com Acte, mas não deu certo. Não... Não era a mesma coisa para o ser humano, mas o jogo havia começado. E foi assim, com muita curiosidade que a coisa foi acontecendo e quando aconteceu não parou mais.
E ali dormíamos suavemente, sonhando com um mundo bonito, alegre e feliz, sem saber que mais tarde provocaríamos um reboliço em todo o mundo. Eu nunca imaginei que pudesse fazer o que fiz. A inocência de uma criança deveria permanecer para sempre, mas nossa personalidade muda com o tempo e com as pessoas. A sociedade faz a gente mudar o rumo das coisas.
Quando estávamos no ápice da felicidade, de meu bem-estar, minha mãe Agripina retorna de seu exílio. Foi direto para a casa em Antium. Sallustius Crispus era marido de Domícia. Era um sujeito calmo e reservado, nunca falava o que estava pensando. Eu gostava muito dele e quando não estava com Acte, preferia estar com Crispus que me ensinou muita coisa como andar a Cavalo e a manejar uma espada. Eu gostava muito de andar a cavalo pelos campos, mas detestei brincar com uma espada. Mas naquele tempo, todo homem precisava manejar bem esta arma, pois ao lado dos punhais, era a única que existia.
Eu não sabia o que estava acontecendo, mas minha mãe começou a gostar de Crispus e logo os dois estavam juntos como marido e mulher. Achei muito estranho aquilo, mas eu não podia fazer nada. Não entendia porque ele tinha deixado minha tia Domícia que era uma boa mulher, mas eram coisas de adultos e que eles se entendessem. O pior de tudo foi que Crispus teve uma síncope rapidamente e veio a falecer. Somente mais tarde alguma notícia vazou dizendo que minha mãe tinha envenenado o marido, mas eu não tinha certeza daquilo. Era muito comum o uso de filtros venenosos naquele tempo. Só se sabe que a riqueza de Crispus veio toda para a minha família
Por este tempo Calígula tinha sido assassinado e quem era o imperador era Cláudio. Eu não sabia também que foi o imperador Claúdio que chamou minha mãe de volta para Roma. Ele também restituiu todos os nossos bens que tinham sido surrupiados por Calígula. De repente eu me vi extremamente rico, praticamente o homem mais rico de Roma, com todos os nossos bens que não eram poucos e os bens de Crispus. Tínhamos dinheiro, ouro, sítios e animais espalhados por toda aquela redondeza.
Então Cláudio chama minha mãe para ir morar no palácio novamente. Ela aceitou na hora e começou a arrumar as coisas para a mudança. Eu não queria ir de jeito nenhum, mas não teve jeito. Ela disse que eu deveria partir com ela, pois lá seríamos muito felizes. Eu não sabia o que se passava na cabeça dela, mas estava tudo arquitetado e bem planejado o que ela tinha em mente fazer, mas não me disse nada. Pedi a ela para ficar em Antium e ela disse que de modo algum eu ficaria ali, já bastou o tempo que ela esteve separada de mim. Agora teríamos que continuar juntos. Acte ficaria ali com a tia. Neste momento eu subi as alturas. Se Acte não fosse, eu também não iria. Não houve outra saída, então ela concordou em levar Acte também. E assim partimos para Roma.
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