Daqui a 30 anos teremos que ouvir o Tico Santa-Cruz lançando mão da narrativa de que lutou contra a ditadura; a Maria Gadú, fingindo ser o novo Chico Buarque, com canções de protesto, dando saudade de quando ela só se arriscava no Shimbalaiê; o Marcelo D2, recontando a História, dizendo que era a resistência; o Sleeping Giants perpetuando sua farsa, dizendo ter lutado contra o sistema; e a atriz Maria Flor propagando que lutou pela democracia. Lógico, todos serão sustentados por uma generosa “Bolsa Ditadura”. É a resistência de plástico torcendo para que isso aconteça novamente.
Eu assisti a um documentário sobre os diversos grupos punk. O distanciamento do tempo, a idade avançada, o esquecimento natural e, talvez, um pouco de Alzheimer fizeram os antigos moleques acharem que atualmente é mais conveniente falarem que lutavam contra a repressão em vez de jogarem a real: eram bandos de jovens, alienados politicamente, querendo beber, tocar, brigar, pixar uns muros, “pegar umas mina” e, no máximo de resistência à Ditadura, fugir da polícia.
O distanciamento inspira uma romantização, logo uma releitura bastante original da realidade. Numa entrevista, pela GloboNews, Miriam Leitão foi obrigada a repetir um editorial, soprado em seu ouvido, que tentava mudar a História. No editorial “trans”, a Rede Globo nunca apoiou o Governo Militar. Como funcionária dedicada que é, Miriam, mesmo sem jeito e visivelmente constrangida, cumpriu a tarefa. Hoje, convém “limpar a barra”, já que não pega nada bem ter apoiado os militares. Demoraram um pouco, 54 anos foi o período de reflexão!
A turminha do “Não vai ter golpe”, “Fora Temer” é aquela do “Ele não” e... tanto faz. Essa galera, ansiosa por uma ditadura, poderia reconhecer a ditadura do Supremo Tribunal Federal (STF) e seus puxadinhos. Entendo, essa ditadura (tirania, perseguição?) não serve para sustentar a narrativa, portanto não garantirá dividendos (Bolsa Ditadura).
“(…) ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação.”
Renato Russo
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