se o silêncio toma minha alma e cala meu coração
calará a voz que grita, que derrama as lavas do vulcão.
No silêncio as folhas sussurram, a natureza pode falar,
as flores respondem o que a mente está a perguntar.
É só ouvir, as águas falam, os rios, os montes andam
em torno da vida que do céu flui, é só tudo ver e viver.
E a alma sente a presença tão distante, sente perto,
toca nos sonhos alados as asas tão amadas, chora,
um choro triste, calado de pó, coberto de nuvem,
e passa no céu um risco azul, o tempo que foi, o ontem,
tão amado passado, hoje só rascunhado nas canções
da flor que de longe olha a montanha em dor. E que dor!
E assim fica a história, uma avezinha num ninho, bem só,
as asas torcidas, feridas, quebradas, pelo tempo algoz,
tempo que não volta mais, realidade que se apresenta,
aceita agora, reconhece, a perca, sofre e grita, mas morre,
em frente a porta entreaberta, a cadeira de vime, folhas verdes,
uma rede e o ditame: - Agora vai, voa embora, ave de mal-agouro.
E nesta morte, deixa rascunhado, um último desejo, o sonho,
se um dia... se um dia... Deus lhe quiser presentear, lhe dê:
uma réstia de luz do sol, um jardim dos encantados, e ainda,
a cura para seu coração, a felicidade, para si e o anjo alado,
e que tenha sempre sob o seu cuidado, o gato dourado, o sol,
o rei - senhor das roças, a montanha azul, tão pela flor amada.
Maria
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