A poda chegou.
Severa, profunda.
A faca entra fundo
e a dor é forte,
sem conforto.
Terei redenção?
A dor gadanha minha alma,
tudo é penoso, sofrido.
A poda é destrutiva.
Como chuva de ácido
que corrói o cerne,
endurece a casca,
faz perder as folhas.
Corta tudo,
até rente ao tronco.
Sobra o caule,
pobre caule,
quase sem cor,
cinza de dor.
Sou eu.
Podada, cortada,
jogada ao fogo
para queimar.
Será que um dia,
dessa velha árvore,
assim tão magoada,
pode um raminho brotar?
Se acontecer,
será um milagre...
Vou esperar
o inverno passar.
Fico aqui,
bem quietinha,
encolhidinha
sob a manta de névoa
que cobre meu
vale de lágrimas,
só esperando...
o inverno passar...
a chuva cessar...
a tempestade acalmar...
e... um raminho de luz
em meu coração
tão podado,
tão machucado, brotar...
Maria
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