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Efeito tóxico
Flora Fernweh

Em uma ensolarada manhã de maio, a grande São Paulo despertou de uma maneira diferente, fugindo do tráfego e do fluxo de pessoas nas ruas, e amanhecendo com uma nova esperança. Marília acordou ainda mais animada para o novo dia, que marcaria o início de uma nova fase em sua vida. Pela primeira vez, convenceu-se de que se quisesse se tornar independente de seus pais, precisaria arranjar um emprego. Ágil como uma águia, não tardou a voar atrás de um, sentia a partir de agora que estava mais próxima de sua autonomia. A jovem, de apenas vinte e um anos, logo concluiria a faculdade, e teve a sorte de conseguir um emprego que atendia a sua área de formação, em um escritório no centro da cidade.

Durante seu trajeto rumo ao primeiro emprego, muitas dúvidas se passaram pela cabeça pensante de Marília, a moça perguntava-se se seria bem recebida, quais seriam os novos desafios, e quantas experiências poderia adquirir. Assim que chegou ao escritório, a jovem foi recebida por uma simpática recepcionista que a conduziu até a sala de trabalho, que Marília dividiria com mais uma funcionária chamada Cláudia. Esta havia se atrasado para o trabalho justamente no dia em que Marília mais precisava de alguém que a introduzisse em suas funções, e assim que Cláudia chegou, Marília se empenhou para acompanhá-la. Percebendo a pressa e a impaciência no rosto de Cláudia, a jovem hesitou em pedir sua ajuda. Apesar de decepcionada, Marília ainda acreditava que a funcionária pudesse ser uma boa pessoa, e conforme os dias se passavam, a jovem trabalhadora percebeu que Cláudia era uma das secretárias mais antigas da empresa, que parecia muito competente, e na qual, todos depositavam sua confiança.

Certo dia em seu trabalho, Cláudia recebeu um telefonema. Marília conseguiu escutar a conversa e passou a duvidar da funcionária. Convivendo com maior proximidade por quase um ano, percebeu o quão falsa Cláudia poderia ser. A jovem perguntava-se então como ninguém havia percebido a fraqueza de Cláudia, ou então o seu veneno, que se camuflava muito bem. Sua opinião sobre Cláudia se confirmou quando no fim do ano, o chefe da empresa solicitou que todos os funcionários escrevessem um relatório sobre a produtividade anual. A jovem, empenhada e inspirada com tudo o que a empresa agregou e proporcionou a ela, escreveu o seu e enviou logo no primeiro dia, mas Marília não podia imaginar a armadilha que sua colega de trabalho tramou: Cláudia interceptou o relatório de Marília e escreveu um falso, assinando com o nome da jovem. Nesse relatório, Cláudia utilizou uma linguagem pejorativa e pouco adequada ao contexto da empresa. Assim que leu o suposto relatório de Marília, o chefe imediatamente a demitiu.

Marília não imaginava que a ousadia de Cláudia fosse perversa até atingir esse ponto, sempre sentiu que a funcionária exalava certa negatividade. A única coisa que consolava Marília era o fato de o fim do ano estar se aproximando, assim, Marília poderia buscar um novo emprego no ano seguinte, na próxima fase de sua vida. Restou a Marília, somente seguir em frente, e aprendendo com as pessoas tóxicas aquilo que elas têm de melhor para ensinar: não seguir o exemplo delas. A moça teve dificuldade em arranjar outro emprego, estava quase desistindo de sua busca para concluir a faculdade antes, e então ter um diploma para ser aceita. Tudo mudou em um fim de tarde de dezembro. Marília recebeu uma mensagem inesperada do chefe da empresa em que trabalhou, convidando-a a retomar as atividades, pois durante a limpeza geral de fim de ano, foi encontrado na gaveta de Cláudia, o verdadeiro relatório de Marília, o chefe releu algumas vezes e se emocionou com o que Marília havia escrito, e gostaria muito de elogiá-la e tê-la novamente na equipe. Cláudia que agiu com irresponsabilidade, foi após muitos anos de mentira e falsidade, afastada do trabalho por tempo indeterminado. Marília sentiu-se feliz por poder retornar, apesar da presença de Cláudia, a jovem gostava muito da função que desempenhava na empresa. Assim que voltou, foi recebida por todos com alegria e uma admiração estampada no olhar dos outros funcionários, pois se não fosse por ela, uma mentira venenosa ainda estaria rondando pela empresa e disfarçando diversos problemas de convivência, ao aproveitar-se de seu falso caráter e da verdadeira identidade que jamais deixou transparecer.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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