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Chevette rodado
Rafael da Silva Claro


Têm acontecimentos que assombram o imaginário familiar, e, mesmo não ocorrendo o pior, nos aconselham a não vacilar e não arriscar, não deixando a negligência, a imperícia ou a imprudência assumir o comando.

Nessa época, GPS era tecnologia da NASA. No máximo, o que tínhamos era um surrado Guia Mapograf, sendo necessário um copiloto consultando o livro. Nesse caso, somente uma bússola poderia nos orientar.

No, quase fatídico, dia saímos, num Chevette, pelo interior de São Paulo. Quem quiser saber o que é um Chevette, é só ir ao Museu do Automóvel. Pois bem, eu pensei que meu cunhado, quem pretendia guiar (ou domar) o veículo, fosse uma espécie de Ayrton Senna, devido a presunção de piloto, mas ele se revelou um Ukyo Katayama, literalmente, Catagrama.

Num episódio onde aconteceu tudo e não aconteceu nada, fizemos as costumeiras orações que, como sempre, foram muito necessárias. Fé em Deus e pé na tábua. Derrubando a lenda de que as rodovias de São Paulo são boas, essa, como exceção, além de mão-dupla, era de pista única, toda esburacada, remendada, cheia de curvas perigosas, mato nas beiradas e tráfego intenso de caminhões. Era quase uma estrada imperial, dessas que Dom Pedro I circulava com seu cavalo (ou burro?). A chuva não era nada, para quem se comparava a um piloto de F1.

Em determinado ponto da viagem, o trânsito estava carregado, mas o comandante queria ultrapassar, de qualquer jeito. Esquecendo-se de que estava conduzindo quatro vidas, lançou mão do estilo “nóis capota, mas num breca”. Explicitando uma, antes, insuspeita inaptidão ao volante, meu cunhado perdeu o comando (que nunca teve) do carro, rodando algumas vezes. Ali, eu percebi como as bailarinas veem o mundo. Nesse dia, eu descobri que a Terra não era plana; porque se fosse, nós despencaríamos no fim dela ou pararíamos na beira do infinito. O transporte foi contido por um amontoado de feno salvador e fofo (não no sentido meigo). Essa desventura faz eu comparar o pretenso ás do volante com o folclórico piloto japonês da Toyota.

Todos sem nenhum arranhão ou concussão e minha sobrinha (quatro anos), no banco traseiro, mantinha um inocente sono, sem se dar conta que estava a bordo de um carrossel com curto-circuito. Nós, os passageiros, pensamos que o motorista esperaria a poeira baixar, mas ele saiu em disparada. Eu já não sabia se estávamos indo ou voltando.

Naquela noite, o, suposto, piloto caiu na real e não dormiu. Eu posso imaginar ele, com os “zóião aberto” na escuridão do quarto, lembrando do risco de morte (ou de vida?) que expôs nós, pessoas de bem, cristãos e pagadores de impostos. Entretanto, ele deve ter ponderado: melhor não fechar os olhos, do que nunca mais abri-los.

Até hoje, como se houvesse uma cruz ou uma capela, ao passar pelo local, lembramos do ocorrido. E por que não recordar de onde, um dia, Deus assumiu a direção de um Chevette. O proprietário daquele carro pode dizer que levou ao pé-da-letra a frase de para-choque de caminhão: comprado por mim, guiado por Deus.


Biografia:
Ensino secundário completo. Trabalhei em várias empresas, fora da literatura. Tenho um blog, onde publico meus textos: “Gazeta Explosiva” Blogger
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