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Poupe-me, passado
Flora Fernweh

Hoje não quero mergulhar no rio da minha infância nem escalar a goiabeira no jardim do vizinho. Prometi a mim mesmo que hoje, só hoje, a lembrança de minha verdejante criança, criada no campo em meio ao milharal e às chuvas quentes de verão, não subiria à tona e nem tomaria conta do meu ser que tanto luta para seguir em frente. É inevitável olhar para frente imaginando o que faria se minha mãezinha estivesse ao meu lado agora, se meu pai me acalentasse em um último sono e se meus irmãos me vissem crescido e mais maduro que as frutas que costumávamos roubar… é, na aurora de minhas andanças, a simplicidade era um tesouro, e apenas os mais nobres de espírito o detinham. Veja só, o passado me empolga, me afaga. Se uma palavra, um cheiro, uma memória me relembra a doçura de um tempo vivido, instantaneamente como em um passe de mágica que pertence ao destino, encadeio todas as histórias que vivi e que guardo comigo, nada passa despercebido, nem mesmo um olhar rápido, nem mesmo um pequeno amor. A saudade é eterna, porque tudo o que é eterno se derrama em saudades. Já fui muitas faces, muitos bandidos e mocinhos, vi muito sóis e luas, dores e prazeres, mas nunca fui o que hoje sou, pois aprendi com o que passou na tentativa de abstrair o máximo proveito dos ensinamentos da madre-vida. E o que hoje sou, eu não sei nem saberei, não sei ser rei do que virá, por isso apenas estou, sem ser completo e finito, mas difuso e duradouro. Parece que fracassei em não seguir viagem no trem do passado que sempre volta, apita, e estremece meus trilhos, me arrancando dos prumos, duvidando de meus rumos e desaparecendo na fumaça de seu próprio brumo. O que me resta senão desembarcar na próxima estação? Sei até que ela se chama esperança, e sei ainda mais que o futuro desse trem é descarrilar, perder-se nas alturas das serras e tombar montanha abaixo, esparramando com um baque as memórias fugitivas de toda uma vida.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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