Beirando o abismo que faz
confluência entre a luz
e o escuro contemplo
o entardecer do dia.
Dia sem sol em minha vida.
Mas quem falou?
Falaram as canções,
mas saber qual era para mim?
Em meio ao véu de água
que pranteia a alma
é impossível ver ou discernir.
E como nesse matagal de escuridão
em que me embrenhei
saber o que é certo
e o que é errado?
Como o sol, em confusão
entre duas espadas,
desembainhada sinto-me eu.
As perguntas mais corriqueiras
tomam os lábios e saem num
sussurrar sem fim.
E o amor eterno onde está?
E as juras de amor onde estão?
Para onde foi aquele
que dizia ser a lua,
o astro a cruzar
sua órbita eterna?
Foram mesmo palavras ocas?
Foram de todo vazias?
Se foram palavras ocas,
a ave deve ligeira fugir.
Se já não acreditava mais,
mas ainda tinha alguma esperança
de que pudesse ser verdadeiro,
esta também descamba do céu
e afunda no lodo de vida
que a minha volta se formou.
Mas não pense você
que não sei nadar.
Aprendi em meus
quinhentos anos de vida
a remar com a alma
e com o espírito.
E agora deslizo
sobre as ondas da escuridão
como ave de asas douradas...
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