Na noite de escuridão cegante,
não sinta você, anjo da minha alma,
vontade de se sentar nos degraus
da escadaria dos sobreviventes.
Somente andar, andar, andar...
devagar, de maneira bonita.
Chegando à porta de fuga,
com metade da calma que Jesus
era capaz de transmitir ao se despedir,
acene, minha saudade...
para os outros fugitivos
e deseje-lhes paz e luz.
Em seguida, resoluto, vai-te,
o rosto avante,
tendo a luz do dia por encalço.
No meio da fúria da vida,
não tema os pássaros dementes.
Porventura não enche Deus,
o espaço entre o céu e a terra?
Nunca entre na selva sozinho,
se entrares, busque encontrar
umas frestas de luz para conversar,
uns cipós de fogo para matar a sede,
um pequeno riachinho,
uns peixinhos para comer,
um braço longo de rio,
pois normalmente lá
há algum ser humano.
Não dê espaço para o vazio
dentro de você.
Não faça da solidão tua religião.
Abrace as lembranças queridas,
e esse novo santuário
que estás a se tornar.
Não entre na sala de escape,
lá não sente,
não autorize que loucas fantasias
adentrem sua mente,
não se permita jogar com a vida
vendo cabeças voar.
Não entre lá,
anjo da minha alma.
Não entre lá.
Só se for para rezar.
Orações nos fazem acreditar,
que se respirarmos Deus a todo instante,
de manhã,
a sombra vai diminuindo.
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