Inicio dos anos 80 do século passado, Aroldo acabara de sair da Faculdade de Ciências Econômicas na capital baiana e voltara para a sua terra natal, abandonando os sonhos dourados e os arrojos da juventude, tendo que ir enfrentar o dia a dia em busca da sobrevivência, difícil àquela época.
Seu pai possuía uma fazenda no Junco e para lá lhe designou. Administrar uma fazenda não era exatamente o seu objetivo de vida, mas tinha que ganhar algum dinheiro enquanto não se tornava conhecido na região, trabalhando com tributos municipais, como estava por ele já estabelecido.
Alguns meses depois, o prefeito o convoca para uma audiência. Propôs-lhe a implantação de um sistema que permitisse uma melhora na arrecadação municipal e lhe permitiu morar em uma casa que possuía na cidade a título de ajuda de custos.
Ocorre que todas as vezes que aparecia na prefeitura alguém para realizar qualquer trabalho, o prefeito o destinava para a “casa de Aroldo”. No inicio considerou estranho aquilo, pois era obrigado a conviver com desconhecidos. Com o tempo descobriu que poderia tirar algum proveito da situação, pois sempre eram pessoas de boa índole: contadores, auditores, delegados, policiais e por aí seguia a lista de hóspedes.
Quando o delegado resolveu se instalar em definitivo na cidade, lhe pediu para dividir o lar com ele e da mesma sorte foi o presidente da Câmara que morava na zona rural e lá sempre aconteciam seções jazzísticas visto que Aroldo é músico, com passagens por algumas bandas tocando guitarra. O juiz nomeado para assumir a comarca tocava sax, o prefeito trompete e o delegado violão. Formaram então um quarteto.
Todos os boêmios freqüentavam a casa de jazz, como se tornou conhecida a nova república. E gostavam. Quem não se agradava era a vizinha que estava grávida. Noite alta, lua cheia e a música lancinante do jazz uivando nas cordas da guitarra e do violão e nos metais do sax e do trompete, o marido da vizinha bate à porta:
- Boa noite. Eu vim até aqui para reclamar do barulho que o senhor está fazendo. Minha mulher está grávida e não consegue dormir.
Abriu a porta e pediu que ele entrasse. Ao perceber quem eram os componentes da banda de jazz, o vizinho se assustou e outra reação não foi se não perguntar:
- Vocês estão precisando de mais um músico para esta orquestra?
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