No meio do caminho tinha uma casa, às margens da estrada. Era a casa da negra Esther. Neta de escravos, Esther era freguesa da mercearia de José Paulo. Dona Esther estava sentada em uma esteira feita por ela mesma com palha de licuri. A velha já estava cansada, perdeu o vigor das forças nas duras tarefas da vida na roça. As suas pernas não respondiam mais ao desejo de manter-se de pé. Sentia-se velha e cansada, a octogenária. Passava os fins de tarde a contemplar o sol se pôr por trás das jaqueiras atrás da casa e quando chegava a noite e seus mistérios, ela rezava o rosário para afastar o medo e descansava o corpo pesado de mulher que pariu dezoito filhos numa cama de vara de cipó coberta por um colchão de palha seca de capim. Sempre que aparecia prenhe o falecido marido lhe pedia; “me dê um filho homem, é melhor para me ajudar nos roçados”.
Dona Esther mandou que o visitante entrasse e tomasse assento no largo banco de madeira, ordenou à neta que lhes servisse café fresco, água de moringa e que fizesse ligeiro um suco de graviola ou de pitanga, ao gosto das visitas. A casa de taipa não era invadida pelo calor do sol porque o frondoso umbuzeiro fazia sombra, onde as galinhas ciscavam a terra molhada, enquanto leves nuvens se perdiam pelo vasto céu.
José Paulo tirou o alforje que trazia pendurado na cangalha e de dentro extraiu mantimentos e os colocou sobre a pesada mesa para alegria de todos. Dona Esther era sua cliente desde quando comprou a mercearia a José de Simão, filho de Simão, e por ela nutria consideração e respeito.
Tomou um caneco de água fresca da moringa, se despediu dos moradores da casa, beijou suavemente o belo rosto negro da velha Esther, emoldurado por longos cabelos brancos envoltos em uma polpa e continuou a caminhada atrás de novos sonhos e novas esperanças, enquanto a negra ficou mirando o horizonte, pitando o seu cachimbo recheado com o fumo picado que o amigo lhe trouxe.
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