Tão logo o sol dobrou a esquina do horizonte, tingindo todo o céu com uma vermelhidão nunca antes vista por aquelas bandas, Zé Prego cruzou a porta azul marinho de sua casa caiada e arriou o corpo cansado da lide diária sobre a cama de vara coberta por um colchão de palha de capim seco. Sentiu que aquela não seria uma noite de calmaria, iguais a todas as noites na roça. Na rua é diferente: tem televisão, antenas parabólicas enfeitam os telhados e as moçoilas fazem filas na porta da lan house CópiasNet – a mais nova novidade do Junco.
Zé Prego estava inquieto como que a pressentir a anormalidade do momento. Imaginou ter visto algo ou alguém que não soube precisar de imediato. Levantou-se, fez o sinal da Cruz e tentou caminhar até a pequena sala quando foi interrompido pelo espectro da finada Eustáquia.
- Lhe trago uma missão. Hoje à meia-noite você deve chamar por dona Olegária e ir até a estrada do Junco, onde há aquele pé de caixão. Dizem que lá é mal-assombrado. Não tenha medo, sou eu que fico lá a guardar o meu tesouro. Não se esqueça de levar dona Olegária junto. Ela conhece as orações.
Zé Prego foi conversar com Olegária que já sabia da história. Acertaram tudo. Na hora marcada se encontraram em frente ao restaurante Portal do Junco e seguiram a viagem em busca das patacas de ouro. Dona Olegária rezou e orou por quase uma hora enquanto Zé Prego cavava o chão seco do Barrocão do Junco embaixo das galhas do pé de caixão. Dizem que esta árvore é assombrosa. Zé Prego não está com medo, pois se sente seguro graças às orações de Olegária. Zé Prego sentia o cansaço se aproximar quando ouviu o barulho da enxadeta em um pedaço de madeira. Uma alegria invadiu o seu corpo. Dona Olegária fortaleceu as orações, pois é nesta hora que todos os soldados do exército das profundezas surgem para proteger o tesouro. Olegária foi valente e corajosa, Zé Prego sentia as suas mãos arderem em brasa como se estivesse adentrando o próprio inferno ao tocar naquela arca. Com sacrifício, conseguiu arrancar o baú de dentro da terra ressecada quando os primeiros raios do sol invadiam o lugar. Com a luz solar as criaturas da noite se foram e os parceiros puderam enxergar toda a fortuna que conseguiram arrancar das entranhas das terras do Barrocão do Junco.
De dona Olegária, o que se sabe é que comprou uma bela casa em Alagoinhas, para onde se mudou por não suportar mais o surgir de parentes e aderentes nunca vistos antes a bater em sua porta; e de Zé Prego nunca mais se teve notícias concretas. Dizem que está em São Paulo e é dono de uma famosa construtora.
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