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O primeiro homem
DIRCEU DETROZ

Confesso minha surpresa com as comemorações dos 50 anos da chegada do homem à Lua. Não esperava tantas reportagens nos jornais e revistas. Nem a quantidade de vídeos antigos e atuais exibidos sobre a corrida espacial nos canais de televisão especializados em documentários.

Engraçado, meio século depois a ênfase continuou a mesma. Ainda se tem a visão de a chegada do homem à Lua ser o grande passo da humanidade. Uma das maiores fake news humana. Até hoje a humanidade nunca foi o foco de nada no planeta. O passo de Neil Armstrong foi a supremacia de uma ideologia sobre sua rival.

Diante de homens que mudaram para sempre a História, dificilmente temos a percepção de que eles foram tão humanos quanto qualquer um de nós. Sempre imaginamos que eles vivem ou viveram num mundo diferente do nosso. Que tanto os “heróis” quanto os “vilões" estão imunes aos dramas e tragédias pessoais.

O filme “O Primeiro Homem” sobre Neil Armstrong parece feito para desmistificar esse panorama. O filme não mostra quem foi o herói que pisou na Lua a primeira vez. O que vemos é o ser humano que pisou na Lua a primeira vez. Tão humano quanto os que acreditam e os que não acreditam que ele esteve lá.

O primeiro homem que pisou na Lua, por exemplo, tinha esposa e filhos. Ele perdeu uma filha com menos de três anos de idade para o câncer. Não existem heróis que possam apagar dramas dessa magnitude como se tivessem uma varinha de condão. É impossível se despir dos dramas familiares e psicológicos antes de embarcar para a Lua.

Por duas vezes, Armstrong esteve a um passo da morte. Ele estava a bordo da Gemini VIII. A missão era acoplar duas naves no espaço pela primeira vez. Depois do sucesso da acoplagem, um propulsor avariado obrigou um pouso de emergência. Na outra vez, enquanto fazia testes com um módulo Lunar, Armstrong ejetou-se segundos antes do protótipo se incendiar.

Já no projeto Apollo, Armstrong perdeu três amigos. Enquanto testavam um módulo de comando em terra, houve um incêndio. Os três foram incinerados dentro da cápsula. Detalhe assustador. Não existia nenhum dispositivo que possibilitasse abrir as portas pelo lado de dentro.

Você vai fazer algo perigoso nunca feito antes. Então tem de olhar nos olhos e dizer para a sua esposa e seus filhos: “Minhas chances de nunca voltar e morrer no espaço ou na Lua, são maiores do que retornar vivo”.

O filme termina com Neil Armstrong na quarentena separado da esposa por um vidro. Na cena herói e fama não cabem. Era apenas mais um drama humano com final feliz.


Biografia:
Sou catarinense, natural da cidade de Rio Negrinho. Minhas colunas são publicadas as sextas-feiras, no Jornal do Povo. Uma atividade sem remuneração.Meus poemas eu publico em alguns sites. Meu e-mail para contato é: dirzz@uol.com.br.
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