Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Bundamolismo pop
(pensando sobre os inúteis do cotidiano)
Roberto Queiroz

Estamos confusos e isso vai passar em algum momento ou nos tornamos canalhas de vez e o que virá a seguir será ainda pior do que isso que aí está?

A pergunta que inicia este texto, artigo, pensamento, desabafo ou como você, leitor, quiser chamar é provocadora, polêmica, incômoda e sabe-se lá o que mais. Porém, é necessária. Mais do que isso: indispensável para entendermos que país bunda mole é este em que estamos vivendo nos últimos anos.

Não é só pelo Impeachment. Não é só única e exclusivamente por causa daqueles que assumiram o poder. Não se trata de elogiar o político a em detrimento do político b, c, d, e, f, z (na boa... Para mim, são todos farinha do mesmo saco podre, roído). É muito mais do que isso. Trata-se de um comportamento, de uma moral arcaica que vigora no país há séculos, mas nunca antes da história deste mesmo país ganhou contornos tão nítidos, tão óbvios, tão macabros.

Estamos cansados, é fato! Estamos incomodados, também é fato. Não aguentamos mais. Contudo, esquecemos daqueles que fingem, que traem, que dissimulam, que não estão nem aí para o que está acontecendo no Brasil. Digo mais: tem gente torcendo para piorar. E muito. Tem quem torce pela volta da ditadura, pelo fim dos direitos trabalhistas, pelo retorno da escravidão... Tem até quem acredita em mitos, super-heróis, messias, salvadores da pátria. Pois é.

Brasil, teu nome é sem noção. Um bunda mole sem noção. E ser bunda mole no século XXI é artigo de luxo, case da cultura pop.

Atualmente o que vale na República Federativa do Brasil é: ou você está comigo ou está contra mim. Não há espaço para meio-termo (meio-termo aqui é o mesmo que em cima do muro, "é melhor ficar de olho senão ele rouba o que é meu"). E o resultado dessa equação? Extremismos, intolerâncias, discriminações, o engavetamento do respeito, da educação, do por favor, do dá licença, do obrigado (Obrigado? É ruim, hein! Deu lugar ao "não fez mais do que a sua obrigação, meu amigo! Ah! E eu tô pagando, entendeu?), ou seja, de tudo. De tudo que era usado, fundamental, obrigatório, na época em que nossos pais ditavam regras e nossos avós ainda eram vivos e lúcidos.

Tudo isso acabou. A bandidagem tomou as ruas de assalto, impôs regras. A maior quadrilha da nação (aquela lá de Brasília) tá se lixando enquanto enriquece ilicitamente. E enquanto isso... O bundamolismo pop está preocupado mesmo é com a programação do Festival Lolapalooza em São Paulo, com a chegada da Copa do Mundo na Rússia (está logo ali, na esquina), com a Paraíso do Tuiutí cair pro grupo de acesso porque colocou uma fantasia satirizando o pseudo presidente vestido de vampiro e outras falácias mundanescas e audiovisuais.

Falando em audiovisual: sabe o que é a cara cuspida e escarrada do bundamolismo pop? Os deformadores de opinião que apresentam talk shows e programas de auditório no país. Gente da laia de Danilo Gentilli e "o rei do bom mocismo forjado", Mr. Luciano Huck, que enriquece diariamente enquanto engana otários e bunda moles notórios. P.S: não vou nem entrar no mérito dos pastores evangélicos de encomenda porque aí o texto não vai ter fim nunca.

Regredimos. Muito. Involuímos. Demais. Fingimos de éticos, de exemplos, de reserva moral da pátria. O tempo todo. Chega a irritar. Queremos, como bem dizia o poeta do rock Renato Russo (você achou que eu ia falar Cazuza, não achou? Sorry!), o futuro da nação. Mas como ele também disse: ninguém conhece a constituição. Na verdade, ninguém quer conhecer. O que eles - a grande maioria de bunda moles - querem é participar de manifestações babacas que não nos levarão a lugar nenhum (aliás, nunca levaram de fato!) e gritar por justica! justiça! justiça!

Resta saber que justiça!!!!! (tão cheia de exclamações condenatórias) é essa...

Pergunto-me se chegaremos a 2019 (se bem que eu disse a mesma coisa no ano anterior e conseguimos chegar a 2018) e a que preço. O que sobra de valor num país cuja sociedade que nele vive só pensa em privilégios, prazeres bobocas e obscenos, passar a perna nos demais e enganar a si mesmo, fingindo-se de patriotas?

Já repararam que os meus textos-desabafo postados volta e meia por aqui, estão sempre cheios de perguntas de difícil resposta? Eu sei, eu sei... Talvez se eu vivesse numa Europa ou Escandinávia, o resultado fosse outro. Como não vivo, fica o hiato, a sensação de vazio, de impotência diante de um país Peter Pan, que se recusa a crescer e ainda gosta de chamar os outros de velho.

Que os bunda moles desapareçam da face da terra (sim, porque tomar vergonha na cara, isso nunca vai rolar!) e levem com eles sua desfaçatez, sua falta de vontade em viver coletivamente e seu ódio gratuito e vulgar. Porque de problemas já estou (já estamos) cheios.

(Obs: este artigo quase se chamou Manual para interpretar bunda moles, babacas e outros tipos exóticos e sem sentido, mas o título ficou grande demais para o site e eu acabei deixando todo o resto para lá...).


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
Número de vezes que este texto foi lido: 61661


Outros títulos do mesmo autor

Artigos O analfabetismo nosso de cada dia Roberto Queiroz
Poesias Será isso um poema ou um rap para uma nação destruída? Roberto Queiroz
Teatro Turnê de despedida) Roberto Queiroz
Teatro Contato Imediato Roberto Queiroz
Poesias Ando cansado Roberto Queiroz
Contos Por onde anda a tal de Ética? Roberto Queiroz
Poesias É poesia ou não é? Roberto Queiroz
Contos No apagar das luzes Roberto Queiroz
Crônicas A balada dos inúteis Roberto Queiroz
Poesias Bárbara Roberto Queiroz

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 151 até 160 de um total de 188.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Entrevista com July Valentine - Caliel Alves dos Santos 62148 Visitas
REPRESSÃO E ESCAPISMO - Tércio Sthal 62148 Visitas
Doce Vinho - José Ernesto Kappel 62146 Visitas
O Vento e a Água - José Ernesto Kappel 62146 Visitas
- Ivone Boechat 62146 Visitas
O perigo de ignorar a energia do ambiente de trabalho - Isnar Amaral 62145 Visitas
Projeto Pesquisa A Educação na Sociedade Global - Ismael Monteiro 62143 Visitas
CAFÉ - Maria Julia pontes 62143 Visitas
A Chegada - José Ernesto Kappel 62143 Visitas
Promessas - José Ernesto Kappel 62142 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última