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O analfabetismo nosso de cada dia
(ignorância: uma paixão nacional)
Roberto Queiroz

Percebo problemas com a repercussão desse artigo. Eu sei, eu sei... Há bastante tempo não publicava nada aqui no site e deveria ter escolhido um outro tema para o meu retorno. Mas como provocador e dono de minhas próprias opiniões que sou, decidi arriscar (arriscar, não; escrachar mesmo, pois o país anda precisando disso, mas de maneira objetiva e não zoneada como anda acontecendo nos últimos anos). Dito isto...

Fato: o Brasil é um dos países mais ignorantes do mundo. E pior: os brasileiros, a grande maioria pelo menos, ao ouvir isso, sentirá uma vontade incontrolável de agredir quem proferiu tais palavras, sejam amigos, parentes, conhecidos de longa data, em suma, qualquer que seja o alvo. É a velha máxima de nossas terras: "não se mete comigo e fica tudo bem". Ainda mais num momento em que o país vive uma era de polarização quase desumana.

De onde vêm tanta ignorância, meu Deus?

Muitos dirão: "é assim desde os tempos em que Cabral aqui aportou, em 1500, que eles - os historiadores - chamam de descobrimento, mas na verdade nunca passou foi de invasão". E no bojo da tripulação os piores seres, bandidos, degredados, homens ávidos pela redução de pena oferecida pela Coroa portuguesa. E o resultado: essa comédia dos erros chamada República Federativa do Brasil.

Difícil precisar como nos tornamos este país iletrado, muito menos quando. De certo mesmo, só uma certeza: é uma ignorância e um analfabetismo criados pela mente maquiavélica de nossos governantes, que não querem - de jeito nenhum - que pensemos com a nossa própria cabeça. "Para quê?", dirão eles, "para que eles (o povo) tomem as ruas de assalto e promovam uma verdadeira revolução? Nem pensar!".

Perguntem aos nossos maiores melhores intelectuais (mesmo aqueles já mortos e, portanto, através de suas obras-primas literárias eternas) e eles dirão o mesmo. Na linguagem deles, é lógico! Para ficar no óbvio: procurem Sérgio Buarque de Hollanda, Paulo Freire, Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre... E tirem suas próprias conclusões.

Analfabetismo no Brasil, na verdade, tem um outro nome: interesse. Político, mercadológico, social, como quiserem chamar. Ele atende às necessidades de uma classe política, seja lá de que partido for, que não almeja outra coisa que não seja se perpetuar no poder. "Falou besteira", disse uma voz no fundo da sala. Que pena! Não ouço vozes partidárias ou de puxa-sacos notórios. Provavelmente, é mais um escravizador pós-moderno tentando colocar a culpa em outro segmento e tirar da reta o fato de que seus filhos sejam bem educados para que os de seus empregados não sejam (e assim, continuem seus empregados).

Mas não quero entrar em nenhuma discussão que me leve a termos com meritocracia (no qual não acredito) ou qualquer outra denominação em voga nos tempos atuais. Esse artigo não pretende ser um palanque para debates políticos e sim um reles desabafo.

Brizola já falou em educação, criou CIEPs que não deram em nada. Darcy Ribeiro já foi um libelo dessa discussão no país. Pessoas públicas, celebridades, atores de televisão, teatro, cinema, volta e meia defendem a necessidade de que as próximas gerações tenham um melhor nível educacional. Mas (e o Brasil é o país do mas) tudo não passa de miragem quando passamos para a prática.

No fundo, no fundo, gostamos de ser grosseiros, primitivos, rústicos. Já ouvi gente nas ruas dizendo que o neanderthal é mais charmoso do que muito intelectual da mídia e da sociedade em geral. Fazer o quê... Vivemos, meus amigos, a era do grotesco. Procure Muniz Sodré no Google e entenderão melhor o que digo!

Há, entretanto, um outro elemento catalisador típico da moral analfabeta nacional: a mania de opinar sobre tudo. O brasileiro, por mais ignorante que seja, adora opiniar. Sobre o que quer que seja. Do futebol à política, do teatro (que ele não assiste) à programação televisiva (a cada dia que passa pior do que nunca). Por mais boçal que seja, quer que sua visão de mundo seja seguida e quando isso não aconrece é um Deus nos acuda, com direito à bate-boca e em casos mais extremos, ultimate fighting na rua, à luz do dia.

Faz sentido? Em qualquer outro lugar do mundo, não. Mas aqui, terra acéfala, quase ágrafa (obrigado internet, pelos maus serviços prestados à comunidade escolar!), onde os habitantes sequer leem um livro ao ano, e quando leem são aqueles velhos exemplares de auto-ajuda ou escritos por falsos autores, é primordial.

Chego àquele ponto da minha narrativa em que percebo que quanto mais eu me estenda sobre o assunto a única realidade que mudará é o tamanho do meu artigo. Portanto, é hora de parar por aqui. Pelo menos, por hora e em tese.

Repito, nem que seja apenas para aporrinhar os coxinhas e moralistas de plantão: gostamos (isso mesmo que você leu!) de ser ignorantes, iletrados, imbecis metidos a malandros. Pelo menos, a grande maioria adora. Se não gostassem, tomariam uma providência urgentemente. Nunca deleguei às instituições de ensino a responsabilidade pela minha formação. Muito menos ao Estado. Sempre entendi que se eu quisesse saber mais sobre qualquer assunto deveria arregaçar as mangas e correr atrás. Mas esse sou eu. E a grande maioria prefere eleger culpados pela sua própria mediocridade cultural e linguística. Parece - dizem eles! - mais fácil.

Quando isso acabará? Acabará um dia? Deixaremos de ser Peter Pans ou capiaus errantes? Acorda, pátria alienada!

O relógio está correndo...


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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