Urbes congestionadas,
Motoristas estressados,
Pensamentos eclipsados de dor:
Este sou eu.
O conjunto destas alucinações que me rodeiam.
Quando saio de casa mais cedo
Enfrento as mazelas da multidão
Escoradas por veículos envenenados
Cujos mártires na direção
Nada mais são
Do que o espelho de minhas próprias
Atitudes
Buzinas
Urros incompreensíveis
Prostituição nas calçadas
A música que reverbera dos quiosques
Este é o som da metrópole
Que mais parece um galope
Do que uma canção
E no meio de toda esta gente
Cansada de sofrer,
De temer,
De correr,
Do tumulto que as ruas guardam
Do rugido que os transeuntes exaltam
Sobrevive o cidadão intimidado
O que será do amanhã,
Se nada vejo no ontem e
Se não me lembro do que passou
Porca memória!
Que me foge aos dedos
Sem nem ao menos avisar
Sequer alertar
Para aquilo que sou:
Um mísero mortal
Preso à metrópole.
Culpado?
Inocente?
Ambos?
Não sei mais o que faço de minha vida
Não sei o que sobra de racional pra contar
O que me resta
É este único desatino chamado sobrevivência
Que me empurra pra frente
E me faz encarar as ruas,
As vielas,
Os becos,
Enfim,
O que a pólis
essa cidade metida a besta
me der
* Publicado no Jornal Plástico Bolha (edição número 17) em Outubro/2007.
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