Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
VÊNUS VETUSTA
Ricardo Cunha Costa

VÊNUS VETUSTA

O Tempo tudo nos muda,
Deteriora, envelhece...
Nunca a ninguém ele ajuda!
Por segar a sua messe,
Colhe da face desnuda
A rósea maçã carnuda
De quem seu lavor padece.

As belas neves d'outrora
Onde estarão? Onde estão
Da florescente Senhora
Seus olhos que nem clarão?
Quase nada veem agora
Se quando o sol vai-se embora
Só lhe deixa escuridão...

'Té o rosto lhe é estranho
Tal-qual a mão sob a luva:
Envelhecida no amanho,
A pele se fez murcha uva;
Em prata, o cacho castanho
E o véu de noiva d'antanho
Hoje um xale de viúva...

Que é dos passados encantos?
Que é dos antigos louvores?
Olhos banhados em prantos,
Passa entre achaques e dores
Vivendo à espera de espantos
Ou da morte, que faz santos
Mesmo os grandes pecadores.

Quem fora tão desejada
Deseja ora estar sozinha...
E a beleza celebrada
Jaz, por obscura e daninha,
Como ventura passada
Que lhe dói quando lembrada
Diante de tudo que tinha.

Os homens -- tão inconstantes! --
Com promessas insensatas...
Seus arroubos delirantes
Lhe cercando entre bravatas:
Indo de amigos a amantes;
Depois, de amantes a errantes
E, enfim, de errantes a erratas!

Que dizer dos grão-senhores
Que seu amor fez captivos?
Dos sérios comendadores
Com ela sempre festivos?
Dos vãos especuladores,
Dos agiotas, dos doutores
Cobiçando-a d'olhos vivos?...

Quem, como rainha entre reis,
Dominou-lhes as vontades?
Contra os costumes e as leis
Com extremas liberdades,
Vê-se perdida das greis
A contar de seis em seis
A própria infelicidade.

Os primeiros seis foram ricos;
Os segundos, poderosos
-- De rendas e de fabricos;
Os terceiros, perigosos...
Mui violentos e impudicos;
E os demais, só namoricos
Cada vez menos fogosos.

Um após outro se vão,
Levando a sua beleza.
Sem nada no coração,
Senão alguma torpeza...
Contempla-se em solidão,
No espelho em sua mão,
A sua própria tristeza.

E o Tempo, só por capricho,
Lhe adia o fim de sua obra,
A esculpir-lhe em cada nicho
Outro vinco que lhe sobra.
Sobre a face algum pasticho
Caricatura-a igual bicho
N'um misto de águia mais cobra...

Afinal -- eu vos inquiro --
Que é d'aquela tão augusta?
Recolhida em seu retiro,
Dia após dia se assusta
Co'o Tempo que, sem respiro,
D'uma Vênus, giro a giro,
Fê-la outra mulher vetusta.

Betim - 25 05 2018


Biografia:
Escrevo. Gosto de escrever. Se sou escritor ou poeta, eu deixo para o leitor ponderar.
Número de vezes que este texto foi lido: 61637


Outros títulos do mesmo autor

Sonetos DAMA-DA-NOITE Ricardo Cunha Costa
Sonetos A MARIPOSA Ricardo Cunha Costa
Sonetos ELA E ELE Ricardo Cunha Costa
Poesias À NOITE Ricardo Cunha Costa
Sonetos CONHECENÇA Ricardo Cunha Costa
Sonetos PSICOGNOSES... Ricardo Cunha Costa
Sonetos A RESPEITO Ricardo Cunha Costa
Sonetos O DESENGANADO Ricardo Cunha Costa
Sonetos A ENCHENTE Ricardo Cunha Costa
Poesias A ADÚLTERA Ricardo Cunha Costa

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 21 até 30 de um total de 41.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Você acredita em Milagres? - Keiti Matsubara 62436 Visitas
Entrega - Maria Julia pontes 62412 Visitas
O Senhor dos Sonhos - Sérgio Vale 62406 Visitas
O Velho - Luiz Paulo Santana 62388 Visitas
PEQUENA LEOA - fernando barbosa 62379 Visitas
Mórbido - Maria Julia pontes 62379 Visitas
EDITORA KISMET – UMA EDITORA DE VANTAGENS - Caliel Alves dos Santos 62367 Visitas
Conta Que Estou Ouvindo - J. Miguel 62350 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 62340 Visitas
Segredos - Maria Julia pontes 62339 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última