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ANDANDO EM CÍRCULOS OU A VISITA 2 - Crônica Amazônica
Carlos Augusto de Medeiros Filho

Resumo:
Um intrigante caso nas picadas das amazônicas. Experientes exploracionistas que se perdem em caminhos simples...

ANDANDO EM CÍRCULOS OU A VISITA 2 - Crônica Amazônica
Chegamos de meio-dia no acampamento, almoçamos e seguimos para o campo. Pretendíamos, trabalhando nessa tarde, adiantar a programação que poderia, assim, ser concluída em menos tempo.
A equipe era composta pelo capataz Viana, o técnico de mineração Jaci que iam fazer um levantamento de magnetometria e completada por mim que ia ajudar no levantamento e também fazer o mapeamento geológico. Era um serviço de detalhamento. As picadas estavam espaçadas, entre si, em apenas 100 metros. A sistemática era trabalhar, por completo, uma linha topográfica e, no seu final, abrir com facão um varadouro para a outra picada e, assim, iniciar um novo levantamento. Pretendíamos, nessa tarde, concluir o trabalho em, pelo menos, 4 linhas.
É interessante esclarecer que o varadouro, entre linhas, não corresponde a uma picada bem aberta, limpa e reta. Consiste, na realidade, em um caminho aberto apenas o suficiente para permitir a nossa passagem e que busca o percurso mais fácil e rápido, evitando, se possível, subidas e matas mais fechadas. Dessa forma, a varação não segue, necessariamente, um caminho linear, mesmo que sempre procure se direcionar o mais transversal possível em relação a outra picada. As varações, nos nossos trabalhos, correspondiam, normalmente, a distâncias de 400 a 800 metros que eram os espaçamentos mais comuns entre picadas.
Nesse caso, a mata, entre as picadas, era relativamente fechada, com muito cipós e composta por uma mistura de vegetação primária e secundária (juquira). Abrir acessos (varadouros) entre picadas era uma tarefa simples e corriqueira. Nesse caso, a ação era facilitada pela pequena distância entre as linhas (100 m), pelo terreno relativamente plano e pela experiência de campo da equipe, especialmente do capataz Viana.
Viana tinha nascido e crescido no mato. Naquele instante, já somava mais de vinte anos em trabalhos em empresas de pesquisa na Amazônia. Era, portanto, um profundo conhecedor da floresta e, somado a isto, era um profissional sério e sempre concentrado nas atividades em desenvolvimento.
Naquela tarde, já tínhamos concluído o levantamento de 3 linhas e, consequentemente, já tínhamos feitos dois varadouros entre picadas. Assim, iniciamos normalmente a abertura do terceiro acesso em direção a quarta picada, com a qual pretendíamos encerrar as nossas atividades de campo naquele dia. Depois de gastarmos um tempo um pouco maior do que os anteriores, chegamos em uma picada que, de imediato e surpresos, constatamos que era a mesma linha que tínhamos saído. Concluímos que a culpa tinha sido da mata mais fechada, com muitos cipós, que provocara a nossa desorientação.
Decidimos, então, retornar um pouco na picada e começar novo varadouro em um local em que a mata aparentasse ser menos densa. Executamos o trabalho, dessa vez, mais concentrados, quase sem conversar. A mata, com poucos metros, tornou-se novamente fechada que nos obrigou a alguns desvios. Chegamos em uma picada, confiantes que estávamos, agora, certos. Enquanto eu e Jaci descansávamos, o Viana caminhou um pouco na linha, para confirmar, por um piquete de estação, que estávamos realmente corretos. Ele, entretanto, voltou rapidamente com a má notícia que continuávamos na mesma antiga picada. Parecia impossível. Dessa vez, pensamos e culpamos um contorno que fizemos em uma árvore.
Iniciamos intrigados, e quase que imediatamente, uma nova tentativa. Como das outras vezes, o resultado foi decepcionante. Estranhamente, retornamos para a picada original. Estávamos cansados, chateados e embaraçados. Decidimos, então, voltar para o acampamento, até porque já era perto das 17 horas.
No retorno, discutimos, principalmente eu e Jaci, sobre o inesperado acontecimento. As explicações técnicas eram difíceis de serem formuladas e, em arte por gracejo e em parte por não existir uma explicação melhor, colocamos como causa uma brincadeira do Curupira. Os moradores da beira dos rios, os seringueiros, garimpeiros, todos têm grande respeito e medo do Curupira, que tem como uma das suas artes prediletas, fazer com que as pessoas se atrapalhem e percam os rumos dos seus caminhos. Nessa discussão, Viana permanecera quase sempre calado. Parecia envergonhado ou, mais provavelmente, estava pensando e reverenciado os mistérios e as místicas figuras da selva amazônica.

Uma observação final: esse fato aconteceu na mesma área do suposto encontro com a Iara, transcrito na crônica "A Visita".


Biografia:
Nascido em 1955. Potiguar com experiência profissional principalmente na Amazônia.
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