Se eu gostasse de sofrimento
pregava minha mão numa lasca de madeira
com pregos enferrujados...

Se eu gostasse de sofrer
enviava cartas a soldados mortos
que nunca serão embalsamados
e nem voltarão para casa...

Se eu gostasse de dor
mandaria poesias encharcadas de ironia
para presidentes e reis
assassinos e cruéis
que nunca perguntarão
porque ainda estamos aqui
onde as bombas cairão como maçãs podres...

Se eu gostasse de alegria
enviaria minha tia
para uma colônia de férias
para gastar - sem miséria
as economias de anos
na poupança da Caixa Econômica Federal...

Se eu amasse ser alegre
iria cantar - em breve
no presídio mais populosos do país
enfiaria meu nariz
na lama do governo
fotografaria os mortos e os enfermos
na sala de espera do consultório dentário...

Se eu presenciasse a paz e a guerra se dando as mãos
não evitaria o desprezo pelo homem
o único animal que convive com o desprezo
e a solidão...

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