- Papai voce me ama? – Perguntou a ingênua criança, cujo nem sabia o significado de amor, porém estava disposta a senti-lo.
O senhor, que estava na sala de adoção, virou-se e encarou o rosto avermelhado e redondo da pequena moçinha e disse:
- Acho que isso não é uma coisa muito boa pequena.
A criança com uma mente perspicaz logo deduziu que ele estava triste, ou que nunca tivesse sentido o amor por ninguém. Porém, ela estava de tudo errada, ele sentira antes afeto e carinho pela sua esposa morta, talvez amor pelo seu filho que foi baleado, mais ja estava velho e cansado demais para aceitar esse sentimento de volta.
A criança pergunta:
- Voce ja sentiu amor por alguém? – com um tom gentil que quebraria até mesmo o coração mais congelado ja visto.
- Ja tive algumas experiencias que comprovem que o amor não é uma coisa boa, entao resolvi só deixar ele de lado – respondeu o velhinho com a cara séria.
O senhor não disse o que queria, somente falou o que a menina gostaria de ouvir naquele momento. A vida inteira ele alcançou seus objetivos, amou e foi amado. Porém, em um momento específico, aquele momento, que o fez-se debruçar em lagrimas negras, pois havia lembrado o dia que deixara sua mulher morta. Na cova. Gélida. Sozinha. Pois, não tinha coragem de retornar ao lugar onde os corvos vivem, onde só a tristeza habita, e foi ali que depositou, no fosso sombrio, todo o seu amor, residindo dentro das entranhas apodrecidas de sua amada. O ultimo resquício do que um dia ele pode chamar de amor
Segue-se a vida, pós-morte da esposa, o mundo cinza, sem vida, até que naquele dia descobriu que o amor é só um complemente da felicidade. Não precisava dele. Precisava ser feliz, como a vida o proporcionará a ser. Tudo o que precisou foi apenas o sorriso, daquela menina, cujo faltava-lhe os dentes da frente, dizendo:
- Eu te amo, mesmo que o senhor não saiba.
- Eu também gosto de você.
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