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Encontrei a notícia na internet: “Rio ganha árvore de Natal de 85 metros movida a biodiesel”. A meu ver, movida também a biojuros. Árvore com 2,9 milhões de microlâmpadas coloridas. É o Natal que se aproxima e não é de admirar: os bancos se transformam em anjos de luz.
Andando pelo Jardim Botânico observei um grupo de mãos dadas em volta de uma árvore frondosa e centenária. Aproximei o ouvido e o guia turístico sugeria tirar os sapatos, abraçar a árvore para renovar as energias para o ano que ia entrar. Estávamos em meado de dezembro.
Desviando ouvidos e olhos do estado sólido Jardim para o estado líquido Lagoa, a Rodrigo de Freitas, há 12 dezembros grupos e grupos de mãos dadas com os seus guias turísticos vão dar um abraço simbólico na Árvore de Natal da Bradesco Seguros. Sobre esta árvore a mídia além de convidar: “venha ver de perto este símbolo de esperança para a família brasileira”; fala também em renovar as energias. Árvore de banco renovando as energias do povo?!
Esta é uma árvore que muitas famílias brasileiras querem distância. É o que ouço misturado aos cantos dos pássaros e tiros de pistolas e fuzis.
Vamos até lá para lhe dar um abraço simbólico e sem unhas e, no entanto, essa árvore nos abraça de verdade. Abraço de tamanduá e tamanduá-bandeira.
Às vezes tenho dúvida se é uma árvore natalina ou uma figueira estranguladora. Não. Estranguladora não é. Ela asfixia, porém, quando sente que vai matar, solta um pouquinho. Respira filha, filho. É uma árvore inteligente. Não há lógica em matar a galinha dos investimentos de ouro, mas árvore de banco não faz caridade, nem é filantrópica. Se nela você se renova, nela mesma deixa as suas energias.
Uma pesquisa mostrou que se houvesse uma transferência de 5% dos 20% mais ricos faria que 26 milhões saíssem da linha de pobreza e, logicamente (grifo nosso), passariam a dar um abraço na Árvore de Natal da Bradesco Seguros para renovar e perder as suas energias. É o Social-Boomerang.
Lembro de uma pomba-gira (Pomba-gira é a fêmea do Exu) que no terreiro deitava com as pernas dobradas para trás e mandava que os homens pisassem os seus longos cabelos estendidos no chão para eles renovarem as suas energias. Mentira. Pomba-gira e Exu enganam. Era para enfraquecer as energias deles, contava ela depois da sessão espírita. Formava-se um círculo e ia girando o carrossel de bobos. Quando terminava a pomba-gira saía pedindo objetos de valor aos bobos, como hoje acontece nessas igrejas que pedem carros, apartamentos, diamantes, e eles saíam do terreiro sem relógio, cordão de ouro, sem um centavo, quando muito para a passagem ou gasolina, quando saíam com o carro.
Mas a liberdade existe e cada um renova as suas energias a seu modo. Renovo as minhas comendo um bom prato de arroz, feijão, farinha e ovo, iluminado pela luz da lua e depois de uma hora de descanso, também abraço a minha árvore industrializada em livro, árvore centenária, árvore Machado de Assis, aonde muitas aves-escribas vão se aninhar até hoje.
Aviso: por favor, ninguém abrace esta crônica porque ela não tem a pretensão psicológica de renovar, mas também não tira as energias de ninguém. Feliz Natal e Próspero 2008.
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