RUÍNAS
Logo acima depois do Brejão, perto da nascente d’água, numa fazenda quase abandonada, é o local do velho engenho incrustado nos morros. Ali, tempos passados, pessoas mil o trabalho atraia no fazer de açúcar preto, melaço e rapadura.
Agora, nem mesmo pessoas estranhas passam querendo esse trabalho. Estão furtando ou então praticando vandalismo.
Caminhantes que seguem a estrada comprimida e plana, arenosa de terra úmida, onde borboletas coloridas se refrescam e aterrissam na friagem beira mina, vão dar ali bem na aguada, água mineral mata a sede de qualquer um.
Mas antes da chegada a esse velho engenho, a estrada não contribui para outro tipo de transporte. Estrada não ajuda. Usavam uma tropa de mais de meia dúzia de burros conduzia cana-de-açúcar, vinda da Fazenda Pessegal. Seus proprietários entram em acordo e combinados, um cedia o engenho, outro a matéria-prima. O produto final era dividido entre eles.
Os produtos de subsistência – a rapadura simples, a rapadura misturada com outros ingredientes, o açucrão e o melado – eram carregados pela mesma tropa, só agora com latas de 50Kg.
Daí o encontro de velhos companheiros e outros encontros fortuitos foram o modo de refazer antigas amizades, deixando rixas e rusgas abandonadas.
Casos novos, brincadeiras, gargalhadas. Mentiras e verdades... nos dias de hoje o velho proprietário do engenho sente o tempo pesado, deixando-o patife e braquiado, muito correu na vida, e não obteve resultados favoráveis.
O engenho de boas histórias seria desta vez a última moagem, a última barganha de mercadoria. Não foi vendido. Ninguém mais o quis, lá naquelas bandas. Dele restou apenas uma paisagem de pedras invadidas pela grama e mato ordinário. E os espaços de terra, agora, estão ocupados pelos troços da engenhoca enferrujados no meio de juá, carqueja e picões. Voam borboletas no azul da sombra mínima.
|
Biografia: NEWTON EMEDIATO FILHO natural de Belo Vale, em Minas Gerais, filho de Newton Emediato e Virgilina Augusta Emediato. É formado pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Graduou-se em Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia e Política). E se especializou na Faculdade de Direito, da mesma Universidade, em nível de Mestrado – Assessoria Técnico-Legislativa Avançada.
É autor de vários ensaios sobre a obra de um dos maiores escritores latino-americanos, João Guimarães Rosa, tendo participação ativa em seminários internacionais realizados pela PUC/Minas sobre Guimarães Rosa.
Um Carro de Bois que Transportava Logos é o seu primeiro romance com comentários (orelha) feitos por Luís Giffoni: [...] Já disseram que Minas são muitas. A literatura também. Um Carro de Bois que Transportava Logos viaja por algumas delas [...].
O conto Um Papagaio Palimpséstico foi selecionado no Festival Festivelhas, originado pelo Projeto Manuelzão/UFMG, realizado no Morro da Garça/MG – em Novembro de 2005.
Rio das Velhas em Verso e Prosa, Projeto Manuelzão, Instituto Guaicuy – SOS Rio das Velhas, primeira edição, dezembro – 2006.
O conto Um Papagaio Palimpséstico foi agraciado com Menção Honrosa no 5 Concurso Guemanisse de Contos – dezembro de 2007 –, que foi o mais concorrido concurso literário promovido pela editora.
Palavras mini-conto publicado no livro de coletânea Letras Mínimas pela Editora Guemanisse, Rio de Janeiro, 2007.
E-mail: newdiato@hotmail.com
|