Atravessou minha frente, olhou para mim, mostrou os dentes afiados para mim. Um enorme gato preto, daqueles que têm os olhos brilhantes como a luz da lua, tal brilho que agora refletia no meu rosto. Lua cheia, lua horripilante, lua assombrosa. Sou supersticioso, não gosto de nada que mostre sinais apavorantes, o futuro, o azar...
Aliás, a onde eu estava? Só consegui responder a minha pergunta quando olhei em volta: estava na praça, no banco da praça. Com um gato preto de olho escarlate queimando os meus.
Tentei ignorar, mas era impossível, aqueles olhos me davam medo... Que horas são? Minha vista estava embaralhada, zonza. Até eu conseguir ver claramente as horas, demorou um certo tempo. Ah é meia-noite e TREZE. O quê? Treze? O número do azar, sinto, algo vai me acontecer. Não é possível, o número, o gato que ainda me olhava, desconfiado...
Precisava voltar para casa, pegar uma carona, quem sabe? Mas, cadê os carros, as pessoas, a onde foram parar?
As ruas estavam desertas, ninguém passava, nenhum carro ia ou voltava. Muito estranho...
Para tentar colocar minha cabeça em ordem, arrumei os cabelos e percebi que um enorme galo estava na minha cabeça, devo ter levado uma pancada e apaguei, por isto estou aqui. Mas não me lembro de nada...
Bem, peguei minha jaqueta e levantei-me, a fim de achar o caminho de casa. Agora, as coisas estavam mais horripilantes, pois o único barulho que escutava era o pio das corujas...Apressei o passo, queria chegar logo em casa. Parecia um louco correndo, mas quem veria? Olhei para trás e vi que o gato preto me seguia... Só pode ser sinal de mau agouro... Até que eu cheguei em uma rua sem saída, um beco. O gato preto olhava para mim, e eu para ele... Éramos apenas nós dois... Quando um homem todo de preto pulou um muro e tentou dar fim ao gato, até que ele fugiu... Eu estava livre dele, mas não do homem, que poderia acabar comigo também.
Vi-me como num daqueles filmes de suspense, quando o personagem está encurralado e acha uma forma de fugir. Mas eu não tinha como e para onde fugir, até que eu senti ele chegando mais perto, mais perto, e eu não tinha como fugir, não teria como... Ele me pegou, e eu desmaiei.
- Ahhhhh! – gritei, dando um pulo da cama.
Olhei em volta: meu quarto, minhas coisas, que alívio, foi um sonho, um pesadelo que já passou.
Eu não ouvia barulhos, mas era porque morava em uma rua calma da cidade.
Para me acalmar, levantei e fui até a cozinha pegar um copo de água, e sentar na varanda um pouco, para distrair-me.
Quando sentei no banco da varanda, não acreditei nos meus olhos: ao meu lado estava sentado um enorme gato preto... Não... Não... Não...
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