Eu não queria ir. Era a última coisa que eu havia pensado em fazer nessas férias.
- É só por uma semana. - minha mãe disse.
- Vai ser legal – meu pai tentava animar – você vai gostar. Ar puro, o campo e muito verde para você explorar.
“Que ótimo” - pensei. - ”Vacas, galinhas e mosquitos. Acho que não vou gostar...”
- A fazenda do tio Daniel é um lindo lugar! – minha mãe reforçou.
- Você vai gostar Bruno. – meu pai bronqueou – pode fazer as malas que amanhã mesmo te levo. Vou ligar e combinar tudo!
Nem adiantou eu falar mais nada... O que um garoto de 13 anos como eu podia fazer na fazenda? Suspirei fundo e subi para o meu quarto para dormir, já estava ficando tarde.
Acordei no dia seguinte com minha mãe me chamando e falando sobre o que tem na fazenda: as maravilhas da culinária e o trabalho nas plantações.
A viagem demorou um pouco, mas chegamos lá bem na hora do almoço. Meu pai conversou com meu tio sobre negócios, e minha mãe ficou horas conversando com minha tia sobre receitas de bolos. E eu fiquei a observar cada cantinho daquele lugar por uma grande janela. Mas algo me chamou a atenção: vi passar um vulto perto das árvores, ao lado do estábulo dos cavalos. Resolvi ficar quieto, porque pensei que seria efeito da cansativa viagem.
Ao anoitecer, minha mãe e meu pai foram embora e voltariam daqui a uma semana, para me buscar. Posso dizer que naquela noite conversei bastante com meus tios, fazia tempo que eu não participava de longas conversas...
Os outros dias foram iguais ao primeiro: eu acordava cedo, ajudava meu tio nos trabalhos externos da casa e ajudava minha tia a fazer pratos típicos gostosos da fazenda. O que não entendíamos, é que todo dia de manhã o sal estava espalhado pela cozinha e os objetos da sala estavam fora do lugar... Mas foi quando meu tio pediu para eu pegar mais lenha para a fogueira perto do estábulo dos cavalos que aquele vulto que eu havia visto outro dia voltou-me a mente. Eu fui, mas com muito cuidado e com uma lanterna em minhas mãos, para não deixar escapar nada. Eu andava tranquilamente pelos campos. Até que eu parei.
Ouvi barulhos no arbusto. Virei minha lanterna para o matagal e encontrei um chapéu, uma espécie de boina de um tom escarlate mágico, do qual eu nunca vira antes. Confesso que fiquei imóvel por um momento, até que me abaixei e peguei o gracioso adereço. Fiquei olhando-o por muito tempo, até que o reconheci: uma carapuça, daquelas usadas por um saci, um menino de uma perna só que adora divertir-se com as pessoas. Inundei-me em pensamentos até que alguém me chamou:
- Hei, você aí! Quem é você? O que faz por aqui?
- Eu... Eu... Então era você... – disse gaguejando, porque acabara de reconhecer aquela simpática figura, após examiná-lo da cabeça aos pés, ou melhor, até um pé só. Quem estava na minha frente era um autêntico saci!
Nós ficamos olhando um para o outro por muito tempo, até que começamos a desenrolar uma longa conversa. Eu devolvi a carapuça a ele e ele me contou todas as travessuras da vida de um saci: demos nós nas crinas dos cavalos e corremos pelos campos. Enfim, nos divertimos muito como nunca tinha divertido antes. Nós apenas paramos porque meu tio apareceu fazendo barulho e gritando meu nome.
_ Ahhhhh! – eu gritei
- Bruno, acorde. Foi só um sonho. – meu tio disse parado ao lado de minha cama.
- E o saci? – eu perguntei
- Que saci? – meu tio começara a rir – Agora, vamos acordando.
Meu tio saiu do quarto e eu levantei num pulo, e fui olhar pela janela. Não vi ninguém, e comecei a acreditar que tinha sido apenas um sonho. Mas parecia tão real...
Eu saí do quarto, ainda de pijama. Mas voltei e olhei para trás. Algo volumoso saía de debaixo da minha cama. Agachei-me e não acreditei nos meus olhos: a carapuça do saci! Foi real! Ele estava ali! Dizem que quem a encontra, realiza um desejo. E eu realizei!
Desci as escadas correndo e abri a porta dos fundos, saí e corri o mais rápido que eu podia, gritando pelo meu novo amigo.
Se eu voltaria aqui? Todas as férias!Acho que eu descobri o melhor sentimento do mundo!
E ainda ouvi meu tio dizendo:
-Crianças, crianças... Tanta imaginação...
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