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Meus tempos de soldado
André Leite

Sim, confirmem os boatos
O que as bocas malditas dessa vez profanam é verdade
Na minha juventude a muitos senhores eu servi
E o meu papel foi o de soldado

Lutei guerras, venci e perdi batalhas
Vi meus companheiros dilacerados a carne por peças de metal
Lhes rasgaram a pele, lhes tiraram a vida
Seus corpos apodreceram em campos abertos, seus restos serviram de banquete a animais

Meus amigos que comigo lutaram só existem hoje
Na memória de algumas das suas viúvas
No vazio das crianças que cresceram seus seus pais
E na solidão dos velhos que não tem seus filhos para lhes prestar cuidado

Como soldado,
Feri e matei diversos inimigos
Seu sangue jorrava ao solo, formava poças
E sujava minhas botas, minha roupa, minhas armas e meu rosto

Vi-lhes expirar a vida
Nesse momento alguns sussurravam, quase ao meu ouvido
Nome de pessoas amadas
Palavras de dor
Ou sonhos aos quais agora nunca poderiam realizar

Quando fui soldado,
Saqueei cidades
Munido de metais, capacetes e rifles
Mandei à vala comum mulheres, homens e crianças
Violentei rapazes e moças às centenas
Pilhei-lhes os bens e a alma, queimei suas casas

Ah, a quantos senhores servi!
Construíram opulentos palácios, cercaram-se de luxo e criados, deram festas
Festas estas que que de tão excessivas e pecaminosas
Seus convidados ainda as narram com um misto de prazer e vergonha

Fui soldado! E hoje pouco me resta
Gastei o ouro que saqueei em bordeis luxuosos a beira de estradas
Agora me sobraram as cicatrizes e os pesadelos
As memórias dos meus companheiros
E os palácios dos meus senhores


Biografia:
Caipira radicado na cidade de São Paulo. Poeta por gosto ou necessidade, ainda a definir
Número de vezes que este texto foi lido: 61633


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