O teu chão pode ser o meu não
E o meu universo caber na tua mão
E se o mar desabar neste nosso chão
Será que seremos estrelas d’água
Na amplidão do não
E se nossas vozes ecoarem
E no silêncio da casa, no frouxo da concha
O zunido um do outro no ouvido
O teu chão pode ser de pedra gasta
Pedra sabão que lava a magoa
E o meu movimento cabe no teu olho
Só se for o mar do mundo todo
A nos levar pelas mãos, pelas mãos
E este calor cego do nosso sertão
Ser tão um do outro nesta visão
Cabe na nossa conversa uma canção
Que deságua no poço do coração
O teu chão começa na minha mão
Desce pela ladeira da minha veia
Escorre pelo corredor do nosso ócio
Até chegar ao verdadeiro chão
De concreto, por debaixo terra
Abaixo da terra o vulcão da paixão
O teu chão me espera e me desespera
E lá no fim nossas almas se almagrarão.
Milton Oliveira
30ago/2017
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