VAZIO
Na calada da noite,
No meio ao brilho da lua.
Em pleno Sertão a açoite,
Sentado à margem do rio
Ao assovio do vento Aracati.
Uma tristeza no meu peito ressoa,
Da saudade que sinto de ti,
E de não ter vivido ao lado dessa pessoa.
E daí tão sozinho calado.
Vejo a luz da lua refletindo nas águas,
Junto a ela meus desejos e lágrimas,
Escurecido em um céu estrelado.
No meu peito uma dor, uma mágoa,
Que deságua em meu submundo favelado.
Não há uma só palavra de consolo,
Mas o vento me parece dizer:
No mundo só quem tem prazer,
Quem vive as loucuras de um tolo.
De quem não faz tanto escolha
Mas ouça a voz do coração.
E o vento segue arrastando folhas,
Dando pra mim uma verdadeira lição.
Um pontinho claro no céu.
Surge meio a escuridão.
Parece algo tão puro, cristalino e fiel.
Como o meu amor à servidão.
Há uma luz no fim do túnel,
Há quem diga que isso em mim.
Seja a mais real e pura paixão.
Ao destino a mim tão perverso,
Ao relento, sozinho converso.
Ouvindo a voz alta do vento,
Que me faz libertar os meus pensamentos,
Faz-me viajar na interpretação íntima dos meus versos.
E, eu no meio ao Sertão,
Às margens do rio.
Um calor, ao invés de frio,
Vivo mensurando palavras em vão,
Alentando um peito bastante vazio!
Derlânio Alves
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