A lenda do Paraíso
Faz tempo, muuiito tempo!
Aconteceu nas brenhas dos Inhamuns
O encontro de dois seres
Manajá e Tupi,
Que tinham entre si
Desejos em comum.
Nesse dia aconteceu
Tempestades não tão incomuns,
Num relâmpago que deu,
Céu e terra estremeceram
Foi o dia que mais choveu,
Inundando o sertão dos Inhamuns.
Logo o sol se converteu
A lua em sangue se transformou
O dia escureceu.
Na nascente do Jaguaribe
Onde morava a jovem Manajá,
Bela índia, virgem, inocente...
Que desejava tanto desencantar.
Foi no choro das águas
Que índia fez seu pedido:
_ Quero desencantar,
_ Índia quer casar
Encontrar seu marido!
Uiara, deusa das águas.
De braços estendidos:
_ Se índia quer ser atendida,
Algo tem que fazer:
_ Fuja de teu povo,
Nas águas do Jaguaribe
Índia tem que descer.
Manajá já decidida
Se joga de rio abaixo.
Machuca-se, fica ferida
Das pedras que rolavam
Das águas do riacho.
Tudo isso era preciso
Índia tinha que se sacrificar
Pois reza seu destino
Há um belo menino,
Índio tupi
Com quem se devera casar.
Já nas fendas das pedras
Da nascente do Rio Jucá
Encantado por ali
Havia índio Tupi
Que tinha como desejo
Um dia se casar.
Tupã, deus do trovão.
Vendo o jovem muito triste
Mergulhado na solidão,
Fez ele desencantar
Estendendo-se a mão:
_ Tupi, Tupi! Saia daí?!!!
_Desça depressa,
Nas águas de Jucá,
Índia Manajá está descendo
Nas águas de Jaguaribe
Vocês precisam se encontrar!
Índio desceu
Entre grutilhões e cachoeiras
Tupi muito padeceu!
Tinha que enfrentar
Na vida, todas as barreiras
Que o destino quis lhe aprontar.
|o encontro de Manajá com Tupi|
No dia seguinte
O sol parecia sorrir
Havia ali, o encontro das águas
De Jaguaribe e Jucá
Onde a natureza deságua
Um feliz porvir.
Nas forças das correntezas
Barros e pedras se corroíam
Formando um belo lago
Que mais tarde cumprir-se-ia
Algo tão sonhado!
No final da tarde,
Quando o sol já se despedia
As águas baixaram
Fazendo uma grande calmaria
Houve um eclipse no céu
Sol e lua se confundiam.
Debruçada numa pedra,
Estava Manajá
Ferida de várias quedas
Pôs- se a chorar
Na outra margem do rio
Estava tupi
Entre os galhos das moitas
Sem poder sair.
A natureza por sua vez
Fez tudo se cumprir
Gotas d’água do céu desceram
Tupi e Manajá se curaram
Podendo então sair.
Acaba-se o eclipse
Lua volta a brilhar
E foi no brilho das águas
Que Manajá e Tupi
Puderam se olhar!
Índia vem ao encontro de Tupi
Tupi veio logo a seu encontro
As estrelas no céu logo a sorrir
Testemunham
Este belo e romântico encontro.
Num beijo que índia deu
Fez Tupi se apaixonar
Novamente o tempo escureceu
E ambos já pensam em se casar.
Entre um mergulho e outro
Sai borbulhas de amor
Tupi se comove de paixão
Os laços se entrelaçam
E pede a Manajá a sua mão.
Manajá muito feliz!
Aceita seu pedido!
- Me aceita como sua esposa
- Que eu te quero como marido.!!!
Um lindo arco-íres se formou
Por detrás do boqueirão
Ouvia-se a voz das águas
E o brado do trovão:
-Tupi...?!
-Manajá...?!
Façam-se cumprir
O desejo do destino
Podem-se casar...
|o casamento de Tupi com Manajá|
No céu a lua desparrama em prata
O “lago” se transforma num “paraíso”
A natureza num só improviso
Faz gotas de orvalho cair
E convida todos os selvagens dali
Para se fazerem presente,
Na festa de casamento,
De Manajá e Tupi.
Em uma grande roda
Pajé chamou Tupi
_ tu és filho da natureza,
_ tem certeza,
_ quer Manajá para ti?
_ Na saúde e na doença.
_ Na alegria e na tristeza.
_ Honrando e respeitado.
_ Serei fiel a minha princesa!
_ Manajá, aceitas Tupi
Como vosso esposo?!
_ Na alegria e na dor,
_ Na juventude e na velhice.
_ Sempre lhes tratarás com amor?
Mannajá em um meigo sorriso!
Com um ar de amor e esperança!
No rosto escorre as águas do Paraiso!!
No dedo de Tupi ponha a aliança!
Olhando para o Pajé
Numa alegria sem fim
Manajá diz:
Pra ser feliz,
_ Eu digo sim!!!!
Fez –se grande festa!
Para toda a vizinhança.
Comidas, bebidas e danças.
Davam-se “ vivo aos noivos!
Com os dispares de suas flechas.
| Anos depois|
Manajá se engravida
Tupi se torna pai
Nos encantos da vida
Lida e assim se vai.
E aí se foram multiplicando
Os filhos de Tupi
Mais tarde se miscigenaram
E não pararam por aí...
Fundiram-se entre si
Culturas, crenças, ranças incomuns
Dando ao lugar: cor, vez e voz.
Origina-se o povo dos Inhamuns
Que somos todos nós!!!!!
A Lenda do Paraíso, Alves Derlânio, 2016.
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