São Tomé das Letras
Parte I: História
A
Foi João Antão, escravo
Fugido, por ser amante
Da irmã de senhor bravo:
Chico Junqueira constante
Na Fé de Nosso Senhor...
B
Que se escondeu numa gruta
No alto da serra ocultada,
Vivendo de raízes, frutas,
De pesca e aves caçadas,
E saudades de seu amor...
C
Foi a João Antão então
Que se deu que apareceu,
A figura de um homem são
Em vestes brancas e deu
Um bilhete e dito ao pobre
D
Que o entregasse a seu senhor,
Que ao lê-lo este o perdoaria,
Com mais fé que medo ou dor
O escravo via ali a alforria
De si e de seu amor nobre...
E
O Capitão Chico Junqueira
Lendo o texto que sabia
Pelo negro sem verdadeira
Da escrita a sabedoria,
Quis conhecer a tal caverna
F
E voltou a gruta João
Com a tropa de soldados
E Chico, o bom capitão,
E assim foi revelado
O que até parece têtra...
G
Pois do lugar que surgira
A visão do homem são
Ali foi achado o que se admira,
A estátua em pedra sabão
De São Tomé, o das Letras...
H
O Capitão Chico Junqueira
Tomou posse desta imagem
E à casa grande e brejeira
Levou-a e com a criadagem
Fez orações num altar...
I/J/Y
Porém, já no dia seguinte,
Sem mistério explicável
A estátua, por conseguinte,
Ressurge em modo admirável
Na mesma gruta do lugar...
K
Creu se tratar dum milagre
O Capitão Chico Junqueira
E para que se consagre
A visão como verdadeira
Ergueu aí rústica capela...
L
Passado todo um qüindênio,
Com mui fé o Barão de Alfenas,
Constrói de pedra um proscênio,
A Igreja Matriz, bela e plena,
Em que ficou a estátua bela...
M
Dois séculos consumados
E há dez anos da era de aquário,
A estátua do venerado
Apóstolo do santuário
Foi roubada por maldade...
N
O milagre não pode, porém,
Mais ser pelo homem desfeito,
São Tomé das Letras, bem
Que foi dado p’lo Perfeito,
Esotérica cidade!
Parte II: Memória
O
Há aqui a energia telúrica,
O portal de Machu Picchu
À oculta caverna única
Do Carimbado, anti-exu,
A força vital da Eubiose,
P
Descem ÓVNIS na Pirâmide,
E as inscrições rupestres
No Shangri-lá da potâmide
Narram a vida intraterrestre...
Mistérios em overdose!
Q
Durante a noite escura,
Ecoa pela mata virgem,
De duende e elfo se murmura
A música da vertigem
Na azul Cachoeira da Lua...
R
Aqui as formações rochosas
Que se espalham pelo sítio
Lembram espectrais monstruosas
De estranhos seres, admite-o
O fiel e ao vulto recua...
S
Quem sabe se são ruínas
D’alguma antiga cidade
Civilização de sina
Já perdida nas idades,
Que os sinais se desconhece...
T
No banho do Véu de Noiva,
Na cachoeira do Paraíso,
Parece que com u’a goiva
E cinzel fez-se o preciso
Talhe das pedras na messe...
U/V/W
Um pôr-de-sol admirável
Dum mais vivo rosicler
Ao arrebol mais inefável,
No cimo do belvedere
Se avista a imensidão!
X
Por bancos de quartzito
Em infindáveis linhas
Traça-se um estranho rito
Que nossa era desalinha
E que nos foge à razão...
Z
Seja ante à Pedra Furada,
Seja ante à Pedra da Bruxa,
À do Lavarejo na levada,
À das Gêmeas na ducha,
Aqui renasce o coração!
|