Sacie minha alma da sede de cores e de esperanças;
brinque com minha imaginação; suporte-me em suas asas;
leve-me ao paraíso interior das flores. Lá, vou embriagar-me
com o doce dos perfumes. Quero, no lambuze do pólen, virar criança.
Sendo ingênua, não embaçarei meus olhos com ilusões perdidas
porque a vida estará cheia delas e nelas, piamente, acreditarei.
Viverei sem preconceitos e sem formalidades, ao natural.
Contentar-me-ei com o orvalho, com a brisa e com o sol.
Ouvirei o zunido das abelhas e dançarei o baile das formigas.
Em dias chuvosos, com os cabelos escorridos, brindarei
com o cálice das pétalas e sorverei a natureza no seu esplendor.
Só não me abandone, lépido beija-flor, para que eu não retorne à dor.
Como humana que sou, continuarei, em pouco tempo,
a me aborrecer; não me deixe só, porque precisarei de você
tal qual criança que estende a mão ao adulto; tal qual, tal qual
idoso que se apoia na bengala; fiéis que suplicam piedade a Deus.
Por isso, leve, meigo e célere beija-flor esteja sempre por perto,
precisarei que me transporte a outras terras e a outras flores.
Entre begônias, rosas, margaridas, dálias, hortênsias, gardênias...,
desejo estar, para melhor entender que, nelas, está presente a vida.
Num eterno escorregar entre macias pétalas, quero conhecer o mundo;
preciso deleitar-me, sem deixar de espiar os homens de boa vontade.
Nas gotículas de orvalho, passarão as imagens de transeuntes
felizes, tristes, ocupados ou não, mas alguém com um ideal profundo.
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