Quem dera ter algo para te dar,
um país inteiro, uma casa, um lar,
uma pátria sem facínoras e farsantes,
que não fosse enrolado como rolo de barbante,
que não houvesse manchas no mapa desse instante...
Quem dera te dar a poesia escrita nos muros do país,
que sentíssemos o perfume das flores e não ópio no nariz,
uma mansarda com um senhor (Bandeira) de caneta em punho,
que sempre fosse férias mesmo que ainda fosse junho,
que cada um fizesse o que sempre fez, o que sempre quis...
Mas o que te dar posso
é esse nó na garganta, esse troço
que impede palavras de saírem pela boca,
esse sentimento quer varre a alma louca,
a fúria ensandecida de um coração vilipendiado,
essa tatuagem rabiscada no peito não de aço...
O que posso te oferecer é essa música de violoncelo,
meus pés carcomidos que andam sem nenhum chinelo,
a bandeira rasgada e a fila de quem sobe aos céus,
o ranger de sonhos acorrentados, que vivem ao léu,
mas, ao mesmo tempo, te ofereço essa porção de vento
que salta sobre os muros e liberta quem está acorrentado,
esse acreditar quase insano que nos tornam solidários,
essa chance de recuperar a vida com todos os seus pertences,
de chamar cada um pelo nome e não pelo número adjacente,
de tratar a vida como a menina que todo dia rega a flor
em quem pôs o nome mais bonito e singelo chamado amor...
|