| O banho |
| Luiz Dias |
Resumo: Da realidade das coisas. |
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_Maria, dê banho no menino!
A frase solta.
Um perigo.
A frase bate nos ouvidos e encontra uma amargura.
Encontra um sensação triste de que ela pudesse estar ali somente para servir.
De que a sorte dos menores era não terem tido pressa de nascer.
Uma obrigação.
Duas.
Três?
Quantas mais se a vida de pequeno parece ser eterna?
Teria obrigações para sempre?
Queria ser cuidada também. Que alguém lhe elogiasse os cabelos. Pintasse. Mesmo que com esmalte incolor. Suas unhas pequenas e roídas.
Queria ter letra bonita depois que aprendesse a escrever.
Queria ir à praia.
Sentir como era a onda do mar quando bate no corpo.
_Será que derrubava Maria?
Voltou ao mundo.
O som da voz de minha mãe lhe feriu os sonhos.
Voltou-se para mim.
Nem me viu.
Ao alcance das mãos a bacia de plástico e minha cintura.
Dobrei os joelhos para facilitar.
Não gostava de contrariar Maria.
Virou-me rápido para que o banho fosse sentado.
Eu de costas para que não lhe visse caso chorasse.
Nem todas as lagrimas sao de tristeza ou alegria.
Ainda vi a fumaça quente passando por mim.
Sorri.
O destino protegeu os dedos de Maria do contato com a àgua.
A àgua chegou-me plena.
Até a bacia pequena protegeu Maria.
Ali. No meio daquilo. Vi que minha vida também não seria assim tão facil.
Que tambem eu cresceria
A àgua queimou-me o corpo.
Tatuou. Embaixo de minha pele. Eterno. O medo de que eu também tivesse dentro de mim aquele estranho sentimento de estar aqui somente para servir.
(...)
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