Certa vez peguei em uma arapuca um passarinho. Uma rolinha.
Pobre da pomba. Caiu. Inocente. Naquela armadilha boba que aprendi fazer com a geração anterior dos outros meninos maus.
Coloquei-a em uma gaiolinha que não sei porque veio com a casa quando alugada.
Achava-a bela.
A pomba.
Assim. Por ser só ela.
Não cantava.
Não voava. Ali,também, mesmo que quisesse, nem dava.
Só sabia fazer ser triste. Silenciar-se.
E odiar-me.
Dois dias depois de prendê-la uma doença grave prendeu-me também.
Quarenta e cinco dias fiquei sem com sal.
Quase me fui.
Quando vinham visitar-me no hospital eu sempre perguntava da pomba.
Quando eu não perguntava, ainda assim, distraiam-me com noticias dela.
Diziam-me que ela estava bem.
Alimentavam-na.
Olhavam-na.
Não achavam-na bela como eu.
Só sabiam, em casa, fazer silêncio.
A pomba morreu poucos dias depois.
Mas, não me contaram.
Mantiveram-na viva até quando eu. Vivo. Voltei pra casa.
A arapuca guardei.
Achava-a bonita.
Por ser só ela.
E a gaiola, sozinha, levei comigo quando alugamos outra casa.
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