Tinhamos em casa. De pequeno. Duas galinhas.
Batizamos as duas, eu e meu irmão, com nomes de branquinha e perninha.
A primeira por ser assim clarinha. E a segunda porque quando em pintinho uma tabua lhe caiu sobre a perna e a deixou assim. Pensa.
Nessa epoca. Tudo que se tem em casa é da familia. A televisao quando enfim chegou era da familia. O cachorro. Era praticamente um tio mais velho. Tambem da familia. A geladeira. Antiga. Tambem da familia. As tabuas que compunham a casa. Praticamente
Uma heranca. E com as galinhas. Que pegamos ainda quando pintinhos. Tambem eram da familia.
Quando eu e meu irmao olhavamos para as galinhas so sabiamos ver alegria. Jogar o milho e elas correrem pegar. O cachorro a correr pelo quintal sem cercas fazendo-as pularem e ver suas penas voando. A perninha, jogavamos de um barranco e la ia ela voando. Metros e metros barranco abaixo. e nesta hora mostrando que so fazia aquilo porque nao tinha a tal perninha. Ela era a alegria da rua.
Um dia. A noite. Hora da janta. Lembro de ser o ultimo a sentar na mesa da familia. Minha irma olhando-me triste quase a chorar. Meus outros irmaos voltando de ver tv.
Um pedaco de pao. Um meio copo de agua. Um tanto de arroz que se eu ja soubesse tinha podido contar só de olhar. E um tanto de mistura.
Antes da lagrima cair. A do meu irmao nem vi cair. Por ser um pouco mais velho ja falava alto e fechava o rosto. E, em algum momento da minha vida que nao notei, ele ja havia ganhado o direito se sair da mesa e falar:
_NAo. Nao vou comer.
Rapido. So o que fiz foi contar os pezinhos parados no prato maior e falei com medo de me ouvir:
_Dois.Obrigado, mamae.
|