Não me pergunte como,
mas vi a mão de um anjo a pintar a manhã de azul,
a derramar de sua taça a água do qual nasceria um riacho,
a escolher as árvores para o pomar à beira da estrada,
a compor uma doce sinfonia com as mãos do vento,
a mostrar que viver feliz é anular o tempo...
Não me pergunte como,
levou-me ao alto da mais alta montanha,
me mostrou camponeses de uma vila a pastorearem rebanhos,
homens suarentos e suas mulheres fiandeiras,
seus filhos a escreverem na terra da praça
poesias sem pé e nem cabeça, cheias de graça,
nenhuma fumaça se elevava ao céu que não fosse de chaminés,
os animais a pastarem e a chuva que chegava do Norte,
eis aí um povo que ama a vida, quem tem sorte...
Não me pergunte como,
apanhou ele minha mão e me pôs a escrever versos,
desenhei palavras que não havia ainda pronunciado,
a cada uma deitada no papel virginal e etéreo
lembrava-me de outra e mais outra, e outra,
e tantas assim que mal terminado o poema
nasceu ao meu lado a mais bela flor,
que num prenúncio qual um teorema,
chamei-a de amor...
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