Em cima de uma rocha começa a brilhar algo cintilante
Num tecido negro como a noite.
Mas olha só, são várias pedras de diamante
Grudados num vestido belo e num véu que rodava como espirais de um açoite.
A água do mar molha a rocha dura
Mas não toca o vestido delicado
O véu se move, se move com formosura
Chamando toda a atenção para o pescoço que a lua deixa iluminado.
Então percebo que dentro do vestido existe algo esculpido,
Trata-se de um corpo alucinante,
Então reflito que não tem sentido:
Para que um corpo tão belo precisa de diamante?!
Sentado na areia me sinto entorpecido
Pensando que é um ser feito de ilusão
Já que não me sinto convencido
De presenciar uma mulher feita de perfeição.
O curto cabelo negro brinca com o véu
E ela permanece parada
Olhando fixamente para o escuro céu
Parecendo pedir para ser amada.
Parece tão real e tão intocável essa visão
Que me sinto com um pouco de medo
Já que viajo repentinamente para a segunda geração
E vejo através dos olhos de Álvares de Azevedo.
Então o coração vai acelerando
E o vento corre no ritmo da batida
A água do mar, de raiva, vai se arrepiando
Por não poder tocar os pés do ser que embeleza a vida.
Um pingo frio escorre pela minha face;
O nervosismo do meu corpo toma conta,
Já que aquele olhar se vira com um pequeno disfarce
E em segundos ele me intimida e me faz esquecer o mundo de ponta a ponta.
Pergunto-me se é verdade,
Diga-me Afrodite:
Se o que presencio é realidade
Se aquela mulher que me olha realmente existe.
Deusa do amor, sei que sentes inveja
Sentes inveja deste ser
Que a beleza não te empresta
Então só te resta lamentar e sofrer.
Com a ajuda do vento me levanto
E uma lágrima do meu olho vai escorrendo
Pois tenho um coração cheio de pranto
Já que em pura solidão vou vivendo.
A pálida e formosa mão ela ergue
Chamando-me em sua direção
É nesse momento que quero que ela acerte
Varrer toda a solidão do meu coração.
Percebo que não há ninguém como ela
Parece que brilha mais que as estrelas do céu
E só o olhar revela
O porquê Afrodite sente inveja da mulher do negro véu.
Meu coração está sendo incendiado
Por essa paixão ardente.
O sofrimento de mim vai ser escorraçado.
Pois a solidão se torna cada vez menos frequente.
Ela se torna menos frequente porque vou me aproximando
E a luz de uma paixão vai nascendo
Quando vejo aquela mão que continua me chamando.
Para perto da beleza que continua me enlouquecendo.
O sol se escondeu no horizonte
Para o céu escuro combinar com seu vestido
Entre ela e eu só existe uma ponte:
A ponte do prazer que estou sentindo.
O êxtase está manipulando
O meu corpo delirado
Então, hesito em tocar a mulher que parece estar flutuando
Porque toda experiência com amor, acabo machucado.
Mas que vergonha!
Como não posso, nesta hora, ser corajoso?
Ali está a mulher que todo homem sonha
A mulher que até Eros sonha em ser esposo.
Então é isso
A solidão ficou para trás
A única coisa que vejo e cobiço
É a mulher dos sonhos que a qualquer homem satisfaz.
Subo na rocha para tocar o meu ser amado
Mas antes de tocá-la, pisco rápido como um raio
Então volto para a realidade e vejo que fui enganado,
Pois não era uma mulher, era um véu preso num galho.
Oh, Afrodite,
Deusa de amor puro!
Aquela mulher não existe
É mais uma enganação da vida, para mostrar que melhor do que ilusão amorosa é ter a solidão como futuro.
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