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O que tenho no bolso?
Minha alma...
Elá é toda minha fortuna, o meu maior bem,
sem ela não sou ninguém,
só um fantasma a ir pela vida,
um descarrilhado trem,
com ela compro os melhores momentos,
com ela pago para respirar o vento,
com ela como a infinita poesia da vida...
Um dia guardei moedas e quis comprar um lugar no céu,
o que encontrei foi só o inferno em forma de negociações,
quis comprar um lugar na carruagem que dizem virá do alto,
o que achei foi o só aço enferrujado a voar pelo asfalto,
quis descansar da luta contra o Diabo,
apenas achei um jeito de me tornar escravo...
Ontem visitei um homem que cantava na soleira da porta,
sua música me dizia que dentro da embalagem só cabe o corpo,
nem um castelo, nem uma máquina, só o amontoado de ossos,
o riso desaparecerá, o choro terá ido, só sobrará a alça torta...
Aqui, agora, o que tenho são palavras que cumprem seu destino,
viver a vida agarradas ao papel, soletradas numa algaravia,
o que tenho aqui e agora são só as lembranças de um menino
que em vez de comer frango com polenta foi comer restos de poesia...
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