Você nem imagina a vontade que tenho de te dar um abraço,
desses que juntam cosmos e desfazem antigos laços,
derrubarmos, juntos, as paliçadas dos elefantes,
criarmos, ao modo do amor, o perpétuo instante
que cria poesia com gravetos e muriçocas,
erguer, erigir a catedral feita de palha de roça,
queria que soubesses o quanto há de prece
no canto triste da cotovia que do alto nos espia,
nos vê na lida insaborosa de todos os nossos dias,
você nem imagina saber que podemos tecer a sina
e dá-la aos nossos pés para que abram caminhos na campina
onde poetas antigos pastoreavam palavras úmidas de orvalho,
de longe escutavam homens de força compondo espadas de retalhos,
quisera eu pode te dizer o quanto vale sentir sem pedir permissão,
amar cada pedra da estrada com a força viva que habita o coração,
soubesses o que tenho visto entre mouros e minotauros,
o soluço de Teseu e a angústia prometida dos dinossauros,
soubesses e cá poria tua alma à disposição da loucura,
haveria de ver que os homens enlouqueceram em noite escura,
que não há castelo com rei dentro que mereça reverência e louvação,
sim, saberia que melhor é voar e alçar aos céus os caídos no chão,
você nem imagina a saudade do que não conheço,
voltar ao antes do que era agora, voltar ao berço
da mais nobre e severa e antiga e viva civilização...
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