A agonia cresce dentro de mim.
Os soluços deram lugar
à uma quietude angustiosa
que prenuncia uma tempestade.
Olho em todas as minhas direções
e não encontro o norte de minhas perguntas
e nem mesmo de meus lamentos infernizantes.
Fico quieta.
Contemplo.
A lua viaja no alto do céu e eu aqui,
presa à terra.
Se pudesse tocá-la ou mesmo sentí-la.
Mas ela se cala. Não diz nada. E sofro.
Sofro a dor de não ser.
A dor de fenecer todos os dias
no cair da tarde sem ao menos uma vez,
uma só vez,.
adentrar a noite em busca da luz do luar.
As lágrimas rolam.
Caem caladas e quentes.
Deslizam mansas mas densas, pela face
já conturbada e cansada,
de tantas lutas e derrotas.
Não há mais forças
para continuar a caminhada.
Deixo-me envolver pela água da chuva
e o frio toma conta da alma.
Onde estão as mãos prometidas?
Onde os braços feitos para amparar a dor?
Surda voz, que se cala, que grita,
que cuida e protege, e nada faz.
Onde está que não te vejo?
Caminhaste pelo meu corpo,
tomaste a vida que aqui existia
e agora deixas o corpo cair vazio
no ataúde da solidão e da dor.
E o fim do prometido inverno
que se aproximava?
E as ordens de sorrir e sorrir,
mesmo que a vida nos levasse à lona?
Onde está que não te vejo?
Para onde foi que não te alcanço,
nem mesmo deslizando nas águas
das lágrimas, que agora caem
sobre o papel onde rascunho minha vida?...
|