Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Assalto na 15
kaio miotti ribeiro

Assalto na 15

Um assassinato. Uma assassinato. Foi o que disseram sobre o corpo estendido na calçada. Caíra do oitavo andar. Estilhaços de vidro e ferro decoravam o corpo lavado de sangue. A nuca arrebentada no chão, tornou vermelho os seus cabelos, que ainda sustentavam nas pontas o amarelo brilhante de outrora. Ainda olhava fixa pra janela de onde caíra, como se tivesse deixado algo lá, como se tivesse esperança de voltar àquele apartamento.
Os curiosos, famílias inteiras, debruçavam-se sobre o fim daquela moça. Ainda não haviam bombeiros ou polícia mas, uma pequena multidão abarcava o desfecho da menina. Murmuravam. Especulavam. “era amante?” “foi traída?” “suicidou-se” “não, assassinato, disseram, assassinato.” “nossa.” “terrível.” E uma onda de pragas - como um enxame de abelhas, mas não de abelhas, de bocas, bocas cheias de dente, lotadas de língua – profanavam o silêncio santo do coração daquela mulher. A pobre, singela, impotente na brancura de sua pele. Alva, tão bela que banhava-se apenas à luz da lua. Contornada quase por inteira por um véu vermelho de morte. Exposta sobre o mosaico da calçada, à meia luz de mercúrio. Cintilante, uma dobradura laminada de ouro. Um altar na calçada. Uma santa. Nua.
“Foi injusto! Foi injusto! Foi injusto, meu amor!” – da janela quebrada do edifício, um homem chora aos berros desesperadamente, apoiado em forma de cruz – “Multidão nenhuma estava entre nós! Você é minha! Só minha!”
“a tua carne ainda cheira no meu corpo!” – deu o último grito, como um suspiro.

Nada mais que isso. O meu papel já estava cumprido. Um jornalista de quinta, num jornal de sexta, tudo bem. Mas não seria capaz de tanta covardia. Fazer palco da tragédia, da infelicidade, do ódio, do desprezo...Querida Ruthi, já não via seu encanto há muito tempo. Desde aqueles poucos dias...a felicidade pouca que tivemos na paixão e nos jogos, na tua cama e nos meus caprichos pra você. Que liberdade não curtimos, estar só acompanhado, apaixonados mas livres. Dez ou doze anos não me fizeram te esquecer. Doze anos, e você aqui, assim. Se eu tivesse ligado, ou não sei, ficado, talvez...
O telefone toca: “Pereira, assalto na 15, assalto na 15, cobre lá!”


Biografia:
estudante em Letras, botecos, ruas, gente...19 anos de vida, 1 minuto fora da barriga. Maringá, UEM.
Número de vezes que este texto foi lido: 59564


Outros títulos do mesmo autor

Poesias Bóris qué vê teta kaio miotti ribeiro
Poesias Janela iluminada kaio miotti ribeiro
Poesias Delírio, delírio kaio miotti ribeiro
Poesias Diga-se de Lata kaio miotti ribeiro
Poesias Assalto na 15 kaio miotti ribeiro


Publicações de número 1 até 5 de um total de 5.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Fazendo bolo - Ana Mello 60068 Visitas
a historia de que me lembro - cristina 60067 Visitas
ELA - sigmar montemor 60057 Visitas
Conta Que Estou Ouvindo - J. Miguel 60042 Visitas
"Esbarrando no amor" - mayana tellys 60035 Visitas
Roupa de Passar - José Ernesto Kappel 60026 Visitas
Decadência - Marcos Loures 60016 Visitas
O estranho morador da casa 7 - Condorcet Aranha 60016 Visitas
Minha Amiga Ana - J. Miguel 60014 Visitas
Boneca de Mulher - José Ernesto Kappel 60012 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última