Tomei lá de nem sei de onde a vida que vivo,
n'outro tempo já fui de saltos, fui grilo,
escapei de sapos na beira da lagoa,
já fui pão, já fui broa,
fui nascente de rio,
de medo tremi de frio,
já louvei e fui louvado,
louva-Deus no ombro pousado,
já matei e fui matado,
por acaso saí sem pena alguma,
vaguei mil mares na minha escuna,
deitei pro trem que varava me levasse,
fui salvo por um sabre que me matou antes da morte,
fui viajeiro de tantas estradas, tive foi muita sorte,
neguei três vezes e três vezes fui negado,
rolei ribanceira e lá embaixo fui achado,
hoje, sem saber quem sou e o quê,
vivo a vida que me vive
e nela vivo a viver...
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