Justo quando abro o dicionário e encontro todas as palavras
não encontro aquela que dirá o que devo te dizer,
te contar como atravessar os muros da colônia de loucos,
nem como saltar a poça deixada pelo sangue do último poeta morto;
apenas estendo minha mão e toco a sua e nos deixamos ir,
só então já não meço o quanto é longo o caminho,
nem com quantas palavras se faz uma poesia,
só aponto a fumaça que está depois da colina,
como fosse um relicário abro o coração
e te convido a orar em silêncio,
de joelhos no chão...
Soubesse quem nos criou o que nunca saberemos
nos contaria através do silêncio das pedras,
dos cânticos aquáticos espalhados nos campos,
pelo perfume das flores nas cercas
saberíamos o aroma que mora no Paraíso,
ouviríamos as estrelas recitando poemas ao sol,
o triste adeus das luzes dos astros quando o dia chega...
No mais alto da estante o livro mais alto grita,
o apanho, o trago ao rés do chão,
o mastigo como erva,
pressinto a comunhão,
tudo está agora como sempre esteve,
em cada palavra está oculto o seu próprio coração...
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