CLARICE LISPECTOR
Essa mulher com as costas voltadas para o mar,
Longa estrada que cruzou para fugir do frio,
Mira a sitiada cidade ferir seu olhar.
Belo e cruel, que crônica faz sobre o Rio ?
De colo, viu a guerra sem nem saber o que era.
Num barco tonto, deu com os costados em Maceio’.
Redescobriu o mundo em contos, febril quimera.
Hoje, ao som da agua viva do Leme, vive so’.
Embora em banco de pedra sem sopro de vida,
Brilha como a estrela que não morrera’ jamais,
Enquanto ao redor paira uma brisa dorida.
Ali’ sentada, decerto ainda cumpre rituais :
Historias de bruxas contadas com graça e dor.
Linda, mais que linda Clarice - Clarice Lispector.
João Ponciano Neto
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