Deitado na maca
vejo a parca
consistência do corpo humano,
frasco composto na beleza dos enganos...
Olho ao redor,
não sei o que é pior,
se o medo que devasta
ou o calendário que desgasta
por dentro a configuração
deste corpo em plena corrosão...
Segue pela avenida
o cortejo que leva esta vida
às mãos do doutor que me espera,
eu, manso cordeiro que um dia foi fera...
Este poema foi escrito por uma tesoura
que avança descosturando a cebola
que todo homem é;
deitado, ronronando,
zíper aberto da cabeça aos pés...
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