Ninguém acha um amor que perdeu num dia de nuvens rubras
que escorreu pelos olhos como pingos pelo guarda-chuva
guardado numa gaveta secreta no fundo mais fundo do coração
onde os pedaços mais bonitos de sonhos amarrados lá estão...
Nem comprando um telescópio de alta potência
se enxerga um amor que vem de longe para nos dar ciência
da nossa pequena solidão em que insistimos em nos colocar
como fôssemos peixes escapando do anzol em alto mar...
Basta abrir a janela numa manhã ensolarada para vermos o caminho
desenhado à mão bem à nossa frente no meio da sebe de espinhos
plantada por nós quando ouvíamos belos noturnos e tristes sinfonias
bebendo licor de hortelã observando gaivotas à beira-mar, tardias...
Quando chega o instante de perdemos o coração
cai-nos à mão o mapa sem nenhum risco ou traço
indicando quem virá, faminto, em nossa direção...
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