Enquanto escuto cantos náuticos e piedosos,
encharco minh'alma com vapores de nuvens,
barcos passam ao léu de onde estou,
choro, mastigo lágrimas com gotas de sal,
almoço da alma, repasto de um Deus morto...
Inverno nocivo que corroem os dentes,
planos invento para escapar desta fúria,
segredos que se escondem na matemática,
furiosos são os que não são descobertos,
ainda assim encho a caneca com sol azul
e mantenho os pés firmes no rochedo...
Quem busca alguma coisa
nesta parte do mundo
sabe que perdas e danos são coisas comuns,
penas e pele ressecada,
leite fervido demais,
ócio indevido, gemidos de loucura e fastio,
quem vai atrás do que nunca possuiu
sabe que um pedaço de si ficará por lá...
Cruzo os dedos e lanço a âncora;
preciso de peixes e istmos,
um feixe de luz que me sirva de ponte,
tranças de fragmentos de pólen do sol,
montanhas de gelo e nada de enfeites,
um homem que anda só sabe que a voz
surgirá, a qualquer momento,
por detrás das coisas contidas
dentro do crânio...
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