Dia desses, passeando pela orla da praia de mar distante,
vendo as maravilhas das ondas como fossem potros corcoveantes,
decidi velejar em balsa de tábuas e cipó feita à mão,
dar um rumo sem rumo à esse meu coração
cansado de elevadores e conversas felinas,
cansado de pensar no futuro como triste sina...
De calção e camiseta pus-me à construção da embarcação,
sem nenhum luxo ou primazia de descanso,
reservei apenas um lugar separado para o pranto
quando ele viesse me perguntar
"por que te sentes salgado
se mais salgado é o mar..."?
Não espero ilhas encontrar e nem tribos que nem dizem Babel,
nem paradisíacos recantos feitos de letras abertas a versos,
menos ainda culturas e civilizações que não tenham bebido o fel
da evolução humana, ideias práticas e práticas insanas e imersos
primatas em suas próprias ideias de plenitude, a espiarem o céu
de um único Deus sempre a nascer toda manhã, pleno, desperto...
Quero apenas vagar como faz o cisco quando encontra o vento,
viajar pelos ares como fosse a ave que roubou os sentimentos,
quero apenas por meus pés no céu e saber-me semelhante ao tempo
que a tanto tempo existe e mesmo assim cá está, nesse momento...
Se porventura me encontrares, acene e acenarei como um adeus,
dê lembranças a todos que te amam e lembranças aos meus...
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